segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Feliz natal e boa entrada em 2010 :)


O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcansável. para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade. Victor Hugo A evolução consciente começa assim que tomamos a resposabilidade de remover nossas próprias barreiras." (Dan Millman) Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos. Tudo em nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, é modificar o mundo, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós.. Fernando Pessoa Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Fernando Pessoa Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo.... Fernando Pessoa A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar. Fernando Pessoa “Enquanto o homem vive uma vida dedicada aos prazeres e vitórias do mundo objetivo, ele não pode escapar da tristeza, do medo e da ansiedade. Não há objeto sem defeito ou imperfeição, não há prazer que não esteja misturado com a dor, não há nenhuma ação que não esteja contaminada com egoísmo. Portanto, seja puro e desenvolva o desapego, o que lhe vai poupar da aflição. As tristezas da vida não podem terminar através do ódio e da injustiça, os quais somente geram mais de sua espécie. A tristeza irá produzir somente pensamentos mais nobres e elevados com experiências que germinam a partir do coração puro, onde o Senhor reside.”


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Vários Textos

Coração de cristal - animação 3d

A Hybrid é uma empresa dedicada à elaboração de imagem médica e científica. Deste modelos a três dimensões até animações de procedimentos cirúrgicos e actuação de novas drogas, combinam a larga experiência na área da medicina com criatividade e competência artística.

Vale apena uma visita ao site para ver uma fantástica animação de um coração em plena acção, onde é visível o fluxo sanguíneo a sua estrutura interna, o sistema de válvulas e muitos outros detalhes impressionantes. É impressionante observar os detalhes do nosso próprio corpo.

http://www.hybridmedicalanimation.com/anim_heart.html

















GLÓRIA LOPES
foto Glória Lopes/JN




Axel Andree vice debaixo de um oleado e alimenta-se, essencialmente, de frutos secos que colhe na floresta

Axel Andree partiu, a pé, da Alemanha, em Abril, e instalou-se no Montesinho há cerca de um mês.

Um ex-estudante de Medicina alemão vive como ermita em pleno Parque de Montesinho, Bragança, para estar em comunhão "com a natureza". Axel Andree, 43 anos, instalou-se numa clareira de carvalhos e chegou cá a pé, a puxar um carroça.

Axel dorme sob um coberto de oleado, alimenta-se de frutos secos, está a plantar uma horta, e garante que quer ali ficar até morrer. "Posso ficar aqui 20 ou 30 anos", assegurou. Isso porque há muito procurava um lugar calmo e silencioso. "É este, é agradável", justificou. O paraíso que buscava foi encontrá-lo no Montesinho, um sítio que vai de encontro à sua visão ecológica da vida. Não tem luz nem água, vive completamente só, a aldeia mais próxima dista cerca de seis quilómetros.

Chegou ao parque há um mês depois de ter feito uma viagem a pé entre Frankfurt (Alemanha) e Portugal, mais de dois mil quilómetros que lhe levaram cerca de quatro meses a percorrer, transportando os seus pertences numa carroça puxada por ele. "Passei e fiz paragens em França e País Basco. Parti da Alemanha no dia 8 de Abril e cheguei à fronteira portuguesa a 2 ou 3 de Agosto. Depois, encontrei este local, no dia 2 de Setembro, e constatei que era o meu lugar", contou. Entrou em Portugal por Miranda do Douro e ainda esteve algum tempo em Izeda, até descobrir Montesinho.

Axel Andree considera que viver numa floresta "é normal", e explicou que já teve uma experiência semelhante na Alemanha, durante três anos. Para já, diz que vive bem no lugar soalheiro que escolheu, e não teme os rigores do Inverno transmontano, porque está habituado a temperaturas baixas. Apesar de ter estudado Medicina, nunca concluiu o curso, porque simplesmente "não era o seu caminho".

O ermita vive essencialmente dos frutos secos que recolhe, mas também vai às compras a Bragança, duas vezes por semana, a pé, e a viagem demora cerca de duas horas para cada lado.

Axel Andree tem pouco contacto com pessoas, mas não se furta a pequenas conversas com quem encontra no caminho, pois a sua situação a todos intriga, por se tratar de uma vida original, apesar de ele não concordar. Contou, ao JN, que tem os dias muito ocupados e que coisas para fazer não lhe faltam. Além disso, também está a estudar Português pelos próprios meios: "Aprendo passo a passo para conversar com os portugueses". "Estou a plantar uma horta, onde vou plantar nabiças e árvores, e construir uma casa em pedra, por isso, tenho muito trabalho a fazer", explicou.

O ermita do Montesinho explica que este modo de vida "foi uma opção de vida".

A GNR confirmou que não tem problemas com a justiça, apenas tinha um cartão de identificação já caducado, mas ontem procedeu à emissão de um novo via SIREPE.








“Entre a brutalidade para com o animal e a crueldade para com o homem, há uma só diferença: a vítima.”

MEDICINA FAZ MAL À SAÚDE

Por Sérgio Gwercman

"Os médicos estão entre as três maiores causas de morte atualmente"

Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar à saúde. Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o uniforme ideal dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um doutorado em ciências, Coleman abandonou a carreira após dez anos de trabalho para ganhar a vida escrevendo livros com títulos sugestivos do tipo Como Impedir o seu Médico de o Matar.

Autor de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica – para ele, a grande financiadora da decadência – e, principalmente, os médicos que recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias. Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos diagnósticos.

Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento possível a seu paciente?

Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família. Infelizmente, isso não acontece. Eles olham os pacientes e pensam o quão rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com aquele caso. Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias dispensáveis. Ao lado do câncer e dos problemas de coração, os médicos estão entre os três maiores causadores de mortes atualmente. Os pacientes deveriam aprender a ser céticos com essa profissão. E os governos, obrigá-los a usar um selo na testa dizendo "Atenção: este médico pode fazer mal para sua saúde".

Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos tratamentos?

A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos colaterais. E grande parte dos médicos não conhece os problemas que os remédios podem causar. Desde os anos 70 eu venho defendendo a introdução de um sistema internacional de monitoramento de medicamentos, para que os médicos sejam informados quando seus companheiros de outros países detectarem problemas. Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando uma droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações parecidas, está errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos e na França demorou mais de cinco anos para sair de circulação no Reino Unido. Somente quando os pacientes souberem do lado ruim dos remédios é que poderão tomar decisões racionais sobre utilizá-los ou não em seus tratamentos.

Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos remédios que receitam a seus pacientes?

A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que vende o produto, que obviamente está interessada em promover virtudes e esconder defeitos. Como resultado dessa ignorância, quatro de cada dez pacientes que recebem uma receita sofrem efeitos colaterais sensíveis, severos ou até letais. Creio que uma das principais razões para a epidemia internacional de doenças induzidas por remédios é a ganância das grandes empresas farmacêuticas. Elas fazem fortunas fabricando e vendendo remédios, com margens de lucro que deixam a indústria bélica internacional parecendo caridade de igreja.

E o que os pacientes deveriam fazer? Enfrentar doenças sem tomar remédios?

É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar remédios. Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas por meio do processo natural de autocura do corpo. Problemas no coração podem ser tratados (não apenas prevenidos) com uma combinação de dieta, exercícios e controle do estresse. São técnicas que precisam do acompanhamento de um médico. Mas não de remédios.

Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao médico?

É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso acontece porque eles têm falsas idéias sobre a eficiência e a segurança das drogas. É muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma receita, mas isso não quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os médicos deveriam educar os pacientes e prescrever medicamentos apenas quando eles são essenciais, úteis e capazes de fazer mais bem do que mal.

Que problemas os remédios causam?

Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão, confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no ouvido e disfunções sexuais como frigidez e impotência.

Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na Colômbia e em Los Angeles, em 1976) e diz que elas causaram redução na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o risco à vida?

Hospitais não são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito saudável para sobreviver a um deles. Se os médicos não matarem o doente com remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará. Sempre que os médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem. Isso diz tudo.

Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom caminho?

Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas alternativas em vez de médicos ortodoxos. De certa maneira, isso quer dizer que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O problema é que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com essas técnicas, muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta complementar sem ter o treinamento adequado. Medicina alternativa não é necessariamente melhor ou pior que a medicina ortodoxa. O melhor remédio é aquele que funciona para o paciente.

Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o contrário?

Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a acreditar nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de 70, os médicos mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci alguns que não sabiam nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de raio X e mesmo assim faziam diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se baseiam em máquinas e testes sofisticados e cometem muito mais erros que antigamente.

Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais em laboratórios. De que outra maneira novas drogas poderiam ser desenvolvidas?

Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos humanos que num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a indústria não gosta desses testes porque muitos medicamentos potencialmente perigosos para o homem seriam jogados fora e nunca poderiam ser comercializados. Qual o sentido de testar em animais? Existe uma lista de produtos que causam câncer nos bichos, mas são vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas farmacêuticas ganham com um sistema como esse.

O que você faz para cuidar da saúde?

Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer carne, não fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos leves. Para proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos aparecem na tela apresentando uma nova e maravilhosa droga contra depressão, câncer ou artrite que tem cura garantida, é absolutamente segura e não tem efeitos colaterais.

Copyright © Abril S.A. Superinteressante - fevereiro 2004









UM PEQUENO ENSINAMENTO DE RAMTHA QUE VIROU SUCESSO.

O texto a seguir foi extraído do DVD Ramtha: Create Your Day - An Invitation to Open Your Mind.
"Voce ja deve ter pensado que assim que voce acorda voce nao sabe quem é; e voce desperta e nao sabe quem voce é.
Voce ja percebeu como olha em torno do seu quarto para se orientar, e o que é mesmo surpreendenteé quando voce ve as pessoas
a seu lado e por um segundo nao sabe quem ela é? Eu acho que voce deveria pensar muito nisso. Nós passamos os primeiros
momentos antes de sair da cama nos orientando, fazendo uma ligação com uma identidade que por um instante nem nós mesmos
tinhamos, e a identidade é aquela [coisa] que começamos a formar quando olhamos para para a pessoa ao nosso lado. Entao
levantamos, começamos a coçar nossos corpos (...), então ficamos de pé e vamos ao banheiro e no caminho olhamos para nós mesmos.
Porque fazemos isso? Porque estamos tentando lembrar quem somos. Ainda é um misterio.
Mas se voce precisa se lembrar de quem é e dos parametros de sua aceitaçao e do muro de sua duvida, se tem de passar por esse ritual
todo santo dia, qual a chance de seu dia ser especial? (...) Mas, e se (...) antes de tentar lembrar quem é, voce se lembrasse do que voce
quer ser, e talvez isso viesse imediatamente antes de ver seu conjuge, de se tocar, de sair da cama, de assustar o gato e de se olhar no espelho.
Antes de fazer tudo isso voce se lembrou de algo:'Antes que eu me ligue no ritual da minha rede neural, vou criar um dia surpreendente, que vou
acrescentar á minha rede neural, que vai acrescentar experiancia à minha vida', e voce cria seu dia. Aquele momento em que voce ainda nao é
quem voce é, esse é o momento sublime (...) Naquele momento voce ve o extraordinario, voce pode esperar aceitar o incomum, voce pode
aceitar um aumento de salario hoje. se voce tornar voce mesmo sua expectativa de um salario diminui muito. Nós dois sabemos disso.
Mas nesse estado de inconclusividade sobre sua identidade, voce pode criar qualquer coisa.
Assim eu digo a meus alunos: antes de se levantar e lembrar que voce é, crie seu dia. Depois de voce criar seu dia, sua rotina vai mudar.
Vai ser uma pessoa ligeiramente diferente olhando para o vaso sanitário, olhando-se no espelho. Vai haver alguma coisa diferente em voce,
e isso vai ser maravilhoso."

[TEXTO RETIRADO DO LIVRO "QUEM SOMOS NÓS?", PG 116]

Para os puros, todas as coisas são puras,
mas nada é puro para os contaminados e infiéis;
deles, até a mente e a consciencia estão contaminadas.

domingo, 11 de outubro de 2009

Vídeos sobre a actual situação do planeta


Belo site - http://www.galacticdiplomacy.com/index.htm 30 mins before GIANT of INDIA ufo nasa A Codificação Secreta - por William Cooper 2012 - Official Trailer 3 The Alien Agenda and the NWO David Icke A VIDA É UMA ESCOLHA ENTRE O MEDO E O AMOR MEDITACAO FAZ BEM VeriChip - RFID Chip O Ultimo discurso de John F. Kennedy - No dia Assassinato VeriChip - RFID CHIP - Materia da TV Record Nova Ordem Mundial - Rastros Quimicos, Vacinas Mortais OS MICROS CHIPS - Entrevista de 1993!!! Com ANTHONY HILDER esta acontecendo neste exacto momento nos estados unidos Georgia guide stones pedras guias da georgia o futuro da humanidade descrito aqui

domingo, 27 de setembro de 2009

Filmes que me marcaram!




Namasté :)

Quero muito de partilhar com vocês alguns filmes que vi recentemente e que me marcaram!
Em cima estão as fotos das capas :)

O filme "poder além da vida" foi o que mais gostei, acho que está fascinante (resume toda a aprendizagem importante que adquiri nos últimos tempos).
Vou colocar 1 texto que achei na net sobre o filme (se alguém já viu por favor comente a sua opinião).




Análise do filme: O Poder Além da Vida (Peaceful Warrior- EUA/2006) por Marcio Kochhann.

O filme: “O poder além da vida”, propõe uma reflexão interior, partindo do principio de que a força de vontade, a fissura em determinado objetivo por mais inatingível que pareça, pode ser alcançado, basta acreditar e lutar sem fraquejar.
A força interior demonstrada através do personagem principal, representa-se com nome de “Sócrates”, o suposto homem sábio, mais velho, que é a caricatura do próprio personagem, porém mais experiente, como acredita-se que será no futuro.
O Sócrates, o eu do personagem, faz ele acreditar no poder do pensamento e mostra-se decisivo para que o personagem ganhe o tão sonhado troféu.
Neste sentido a mensagem final nos faz pensar em alguns fatores chaves:
a) O que realmente queremos da vida e o poder que temos agora?
Não basta acumularmos conhecimento é necessário sabedoria, pois sabedoria é colocar em prática o conhecimento.
b) O que podemos fazer para mergulharmos em nosso interior, nos auto-conhecer, para melhorar nossa vida? É necessário estarmos atentos para saber escutar e refletir sobre nossos atos.
c) A felicidade não se é obtida no final de uma conquista, mas sim durante seu desenrolar ou caminho.
É incrível como as experiências pelas quais somos submetidos ao longo da vida modificam nosso comportamento, sendo preciso uma derrota para se dar valor ao todo.
d) Todos temos em nosso interior, um gigante em potencial adormecido, o nosso espírito humano de superação, basta acreditarmos e libertá-lo, sendo 100% decidido no que fazemos e acreditando sempre que podemos ir além.
Retirado do site: http://www.via6.com/topico.php?cid=10054&tid=184411

Adiciono aqui algumas frases retiradas do filme:
“Todos lhe dizem o que fazer e o que é bom pra você. Não querem que você encontre suas próprias respostas. Querem que você acredite nas respostas deles. Pare de escutar os outros e ouça o que tem no seu interior.”

“As pessoas temem o que há por dentro. Mas é o único lugar onde encontrarão respostas”.

“As pessoas não são o que elas pensam (...)”

“O hábito é um problema. Só precisa estar consciente de suas escolhas e ser responsável por seus atos.”

“Retire seu lixo mental. Ele atrapalha o que realmente importa: o aqui e agora.”

“Não existe tristeza na morte, há tristeza em quem não aproveita a vida.”

Fonte: http://www.pensar21.com.br/2009/04/poder-alem-da-vida/

domingo, 13 de setembro de 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

capítulo dez

O SIGNIFICADO DA ENTREGA
A aceitação do Agora
Você mencionou a palavra “entrega” algumas vezes. Essa idéia não me agrada. Soa um pouco fatalista.
Se aceitarmos sempre as coisas como elas são, não vamos fazer nenhum esforço para melhorá-las. Para mim, o
significado de progresso, tanto em nossa vida pessoal quanto em coletividade, é não aceitarmos as limitações
do presente e nos empenharmos para ir além, para superá-las e criar coisas melhores. Se não tivéssemos agido
assim, ainda estaríamos vivendo em cavernas. Como conciliar essa entrega com a mudança e a realização das
coisas?
Para muitas pessoas, a entrega talvez tenha conotações negativas, como uma derrota, uma desistência,
uma incapacidade de se reerguer das ciladas da vida, certa letargia, etc. A verdadeira entrega, entretanto, é algo
completamente diferente. Não significa suportar passivamente uma situação qualquer que nos aconteça e não
fazer nada a respeito, nem deixar de fazer planos ou de ter confiança para começar algo novo.
A entrega é a sabedoria simples mas profunda de nos submetermos e não de nos opormos ao fluxo da
vida. O único lugar em que podemos sentir o fluxo da vida é no Agora. Isso significa que se entregar é aceitar o
momento presente sem restrições e sem nenhuma reserva. É abandonar a resistência interior àquilo que é. A
resistência interior acontece quando dizemos “não” para aquilo que é, através do nosso julgamento mental e de
uma negatividade emocional. Isso se agrava especialmente quando as coisas “vão mal”, o que significa que há
um espaço entre as exigências ou expectativas rígidas da nossa mente e aquilo que é. Esse é o espaço do
sofrimento. Se você já tiver vivido bastante tempo, certamente saberá que as coisas “vão mal” com muita
freqüência. É precisamente nesses momentos em que a entrega tem de ser praticada, caso queiramos eliminar o
sofrimento e as mágoas da nossa vida. A aceitação daquilo que é nos liberta imediatamente da identificação com
a mente e nos religa com o Ser. A resistência é a mente.
A entrega é um fenômeno puramente interior. Isso não quer dizer que não possamos fazer alguma coisa
no campo exterior para mudar a situação. Na verdade, não é a situação completa que temos de aceitar quando
falo de entrega, mas apenas o segmento minúsculo chamado o Agora.
Por exemplo, se você estiver atolado na lama, não tem de dizer: “Está bem, me conformo de estar atolado
nessa lama”. Resignação não quer dizer entrega. Você não precisa aceitar uma situação indesejável ou
desagradável na sua vida. Nem precisa se iludir e dizer que não tem nada errado em estar atolado na lama. Nada
disso. Você tem completa consciência de que deseja sair dali. Então reduz a sua atenção ao momento presente,
sem atribuir a essa situação nenhum rótulo mental. Isso significa que não existe nenhum julgamento do Agora.
Em conseqüência, não existe nenhuma resistência, nenhuma negatividade emocional. Você aceita a “existência”
do momento. A seguir, toma uma atitude e faz tudo o que puder para sair da lama. Chamo essa atitude de ação
positiva. Funciona muito mais do que uma ação negativa, que decorre da raiva, do desespero ou da frustração.
Até que alcance o resultado desejado, você continua a praticar a entrega ao se abster de rotular o Agora.
Vou fazer uma analogia visual para ilustrar o ponto que estou sustentando. Você está andando por uma
estrada à noite, com uma neblina cerrada, mas possui uma lanterna potente que corta a neblina e cria um espaço
estreito e nítido na sua frente. A neblina é a sua situação de vida, que inclui o passado e o futuro. A lanterna é a
sua presença consciente, e o espaço nítido é o Agora.
Não se entregar endurece a forma psicológica, a casca do ego, e assim cria uma forte sensação de
separação. O mundo e as pessoas à sua volta passam a ser vistos como ameaças. Surge uma compulsão
inconsciente para destruir os outros através do julgamento e uma necessidade de competir e dominar. Até
mesmo a natureza vira sua inimiga e o medo passa a governar a sua percepção e a interpretação das coisas. A
doença mental conhecida como paranóia é apenas uma forma ligeiramente mais aguda desse estado normal,
embora disfuncional, da consciência.
– 90 –
A resistência faz com que tanto a sua mente quanto o seu corpo fiquem mais “pesados”. A tensão se
manifesta em diferentes partes do corpo, que se contrai para se defender. O fluxo de energia vital, essencial para
o funcionamento saudável do corpo, fica prejudicado. Algumas formas de terapia corporal podem ser úteis para
restaurar esse fluxo, mas a menos que você pratique a entrega na sua vida diária, essas coisas só podem lhe
proporcionar um alívio temporário, porque a causa, o padrão de resistência, não foi ainda dissolvida.
Porém, existe alguma coisa dentro de você que não é afetada pelas circunstâncias transitórias que
constroem a sua situação de vida e a que você só tem acesso através da entrega. Trata-se da sua vida, do seu
próprio Ser, que existe no eterno domínio do presente. Encontrar essa vida é “a única coisa necessária” de que
Jesus falava.
Se a sua situação de vida é insatisfatória ou mesmo intolerável, somente através da entrega você vai
conseguir quebrar o padrão inconsciente de resistência, que permite a permanência dessa situação.
A entrega é perfeitamente compatível com tomar uma atitude, iniciar uma mudança ou atingir objetivos.
Mas, no estado de entrega, uma energia totalmente diferente flui naquilo que fazemos. A entrega nos religa com
a fonte de energia do Ser, e, se as nossas ações estiverem impregnadas com o Ser, elas se tornam uma alegre
celebração da energia da vida, que nos aprofunda cada vez mais no Agora. Através da não-resistência, a
qualidade da nossa consciência, e, portanto, a qualidade do que estivermos fazendo ou criando, aumenta sem
medidas. Os resultados vão falar por si mesmos e refletir essa qualidade. Podemos chamar isso de “ação de
entrega”. Não é um trabalho tal como nós conhecemos por milhares de anos. À medida que mais seres humanos
despertarem, a palavra trabalho vai desaparecer do nosso vocabulário e talvez seja criada uma nova palavra para
substituí-la.
A qualidade da sua consciência neste momento é que vai determinar o tipo de futuro que você vai viver.
Portanto, entregar-se é a coisa mais importante que você pode fazer para provocar uma mudança positiva.
Qualquer outra coisa que você fizer será secundária. Nenhuma ação positiva pode surgir de um estado de
consciência onde não existe entrega.
Consigo entender que, se estou em uma situação desagradável ou insatisfatória e aceito o momento como
ele se apresenta, não haverá nenhum sofrimento ou infelicidade. Terei passado por cima deles. Mas ainda não
entendo de onde poderia se originar a energia para provocar uma mudança, sem que existisse uma certa dose
de insatisfação.
No estado de entrega, você vê claramente o que precisa ser feito e parte para a ação, fazendo uma coisa de
cada vez e se concentrando em uma coisa de cada vez. Aprenda com a natureza. Veja como todas as coisas se
realizam e como o milagre da vida se desenrola sem insatisfação ou infelicidade. É por isso que Jesus disse:
“Olhai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam”.
Se a sua situação geral é insatisfatória ou desagradável, separe esse instante e entregue-se ao que é. Eis
aqui a lanterna cortando através da neblina. O seu estado de consciência deixa então de ser controlado pelas
condições externas. Você não age mais a partir de uma resistência ou de uma reação.
Olhe para uma situação específica e pergunte-se: “Existe alguma coisa que eu possa fazer para mudar
essa situação, melhorá-la ou me retirar dela?” Se houver, você toma a atitude adequada. Não se prenda às mil
coisas que você vai ter que fazer em algum tempo futuro, mas na única coisa que você pode fazer agora. Isso
não significa que você não deva traçar um plano. Planejar talvez seja a única coisa que você possa fazer agora.
Mas certifique-se de que você não vai começar a rodar “filmes mentais”, se projetar no futuro e, assim, perder o
Agora. Talvez a atitude que você tomar não dê frutos imediatamente. Até que ela dê, não resista ao que é. Se
não houver nada que possa fazer e você também não puder escapar da situação, use isso para poder ir mais
fundo na entrega, mais fundo no Agora, mais fundo no Ser. Quando entra nessa eterna dimensão do presente, a
mudança sempre acontece por caminhos estranhos, sem a necessidade de uma grande quantidade de atitudes da
sua parte. A vida se torna proveitosa e cooperativa. Se fatores internos como o medo, a culpa ou a indolência
impedem você de tomar uma atitude, eles vão se dissolver na luz da sua presença consciente.
– 91 –
Não confunda entrega com uma atitude do tipo “não ligo mais para nada”. Essas atitudes estão cheias de
negatividade na forma de um ressentimento oculto, portanto não se trata de entrega mas de uma resistência
disfarçada. Ao se entregar, dirija a sua atenção para dentro para verificar se existe algum traço de resistência que
tenha ficado no seu interior. Fique bem alerta ao fazer isso, do contrário um resíduo de resistência pode ter
ficado escondido em algum cantinho escuro, na forma de um pensamento ou de uma emoção desconhecida.
Da energia da mente para a energia espiritual
Livrar-se da resistência não é uma tarefa fácil. Continuo sem saber como fazer isso.
Comece por admitir que é resistência. Esteja lá quando a resistência aparecer. Observe de que modo a sua
mente a cria, que nome dá à situação, a você mesmo, ou aos outros. Observe o processo de pensamento
envolvido. Sinta a energia da emoção. Ao testemunhar a resistência, você vai verificar que ela não tem nenhum
propósito. Ao focalizar toda a sua atenção no Agora, a resistência inconsciente passa a ser consciente, e isso é o
fim dela. Você não pode estar infeliz e consciente. Se há infelicidade, negatividade ou qualquer forma de
sofrimento, significa que existe resistência, e a resistência é sempre inconsciente.
Eu tenho certeza de que posso estar consciente da minha infelicidade.
Você escolheria a infelicidade? Se não escolheu, como ela apareceu? Qual é o propósito dela? Quem a
está mantendo viva? Você diz que está consciente da sua infelicidade, mas a verdade é que você está
identificado com ela e mantém vivo esse processo de identificação, através de um pensamento compulsivo.
Tudo isso é inconsciência. Se você estivesse consciente, quer dizer, totalmente presente no Agora, toda a
negatividade iria se dissolver quase instantaneamente. Ela não conseguiria sobreviver na sua presença. Só
consegue sobreviver na sua ausência. Nem mesmo o sofrimento consegue sobreviver muito tempo diante da
presença. Você mantém a infelicidade viva quando dá tempo a ela. Esse é o sangue dela. Remova o tempo,
concentrando uma percepção intensa no momento presente, e ela morre. Mas você quer mesmo que ela morra?
Você já teve mesmo o bastante dela? Quem você seria sem ela?
Até que você pratique a entrega, a dimensão espiritual é algo a respeito do que você já leu, ouviu falar,
escreveu, pensou, acreditou ou não. Não faz diferença. Não até que a entrega tenha se tornado uma realidade em
sua vida. No momento da entrega, a energia que você desprende e que passa a governar sua vida é de uma
freqüência vibracional muito maior do que a energia da mente, que ainda governa as estruturas sociais, políticas
e econômicas da nossa civilização e que se perpetua através da propaganda e dos sistemas educacionais. Através
da entrega, a energia espiritual penetra nesse mundo. Ela não gera sofrimento para você, para outros seres
humanos ou para qualquer outra forma de vida no planeta. Ao contrário da energia da mente, ela não polui a
terra e não está sujeita à lei das polaridades, que diz que nada pode existir sem o seu oposto e que não pode
haver o bem sem o mal. Aqueles que continuam dominados pela mente – a grande maioria da população – não
percebem a existência da energia espiritual. Ela pertence a uma outra ordem e vai criar um mundo diferente
quando um número suficiente de seres humanos entrar no estado de entrega e se tornar totalmente livre da
negatividade. Se a Terra sobreviver, essa será a energia daqueles que a habitarem.
Jesus se referiu a essa energia quando proferiu seu famoso e profético Sermão da Montanha: “Bemaventurados
os mansos porque herdarão a Terra”. É uma presença silenciosa mas intensa, que dissolve os
padrões inconscientes da mente. Eles podem até permanecer ativos por um tempo, mas não vão mais governar a
sua vida. As condições externas, que apresentavam uma resistência, também tendem a mudar ou a se dissolver
através da entrega. Essa energia é um poderoso agente transformador de situações e de pessoas. Caso as
condições não mudem imediatamente, a sua aceitação do Agora permite que você se coloque acima delas. De
qualquer forma, você está livre.
A entrega nos relacionamentos pessoais
– 92 –
E quanto às pessoas que querem me usar, manipular ou controlar? Tenho de me entregar a elas?
Elas estão isoladas do Ser e tentam inconscientemente sugar sua força e energia. Somente alguém
inconsciente vai tentar usar ou manipular os outros, mas também é verdade que apenas as pessoas inconscientes
podem ser usadas e manipuladas. Se você reage ou se opõe ao comportamento inconsciente dos outros, também
fica inconsciente. Porém, a entrega não significa uma permissão para que pessoas inconscientes usem você. De
jeito nenhum. É possível dizer “não” de modo firme e claro para alguém e, ao mesmo tempo, permanecer em
um estado de não resistência interior. Ao dizer “não” a uma pessoa ou situação, você não deve reagir, mas sim
agir de acordo com um insight, uma firme convicção do que é certo ou errado para você naquele momento.
Permita que isso seja um “não” sem reação, um “não” de alta qualidade, um “não” livre de toda a negatividade
e, desse modo, não gere mais sofrimento.
Estou passando por uma situação desagradável no trabalho. Tentei me entregar a ela, mas achei
impossível. Uma grande dose de resistência continua a aparecer.
Se você não consegue se entregar, aja imediatamente. Fale ou faça alguma coisa para provocar uma
mudança na situação, ou se afaste dela. Seja responsável pela sua vida. Não polua o seu lindo e radiante Ser
interior com negatividade. Não transmita infelicidade, nem deixe que ela crie um lugar dentro de você.
A não-resistência também deve regular nossa conduta externa, como por exemplo uma não-resistência à
violência, ou é algo que só interessa à nossa vida interior?
Você só precisa se preocupar com o aspecto interno. Isso é fundamental. É claro que ele vai acabar
modificando suas atitudes externas, seus relacionamentos, etc.
Seus relacionamentos vão mudar profundamente através da entrega. Se você nunca consegue aceitar o
que é, conseqüentemente não é capaz de aceitar qualquer pessoa do jeito que ela é. Você está sempre julgando,
criticando, rotulando, rejeitando ou tentando mudar as pessoas. Além disso, se continuar a transformar o Agora
em um meio para atingir um fim no futuro, também vai considerar as pessoas com quem se relaciona como um
meio para atingir um objetivo. O relacionamento, o ser humano, passa a ter uma importância secundária para
você, ou mesmo nenhuma importância. O que vale é o que você consegue extrair do relacionamento: um ganho
material, uma sensação de poder, um prazer físico, ou alguma forma de gratificação do ego.
Deixe-me ilustrar como a entrega pode agir nos relacionamentos. Quando se envolver em uma discussão
ou um conflito com um sócio ou um amigo, observe como você se coloca na defensiva quando a sua própria
posição é atacada, sinta a potência da sua própria agressão ao atacar a posição da outra pessoa. Observe o apego
aos seus pontos de vista e opiniões. Sinta a energia mental e emocional por trás da sua necessidade de ter razão e
de mostrar à outra pessoa que ela está errada. Essa é a energia da mente. Você a torna consciente ao reconhecêla,
ao senti-la o mais completamente possível. De repente, no meio de uma discussão, você descobre que pode
fazer uma escolha e resolve abdicar da sua própria reação, só para ver o que acontece. Você se entrega. Não
quero dizer abrir mão da sua reação verbalmente dizendo “está bem, você tem razão”, com um ar no rosto que
diz “estou acima de toda essa inconsciência infantil”. Isso é apenas deslocar a resistência para um outro nível,
com a mente ainda no comando, considerando-se superior. Estou falando de abandonar todo o campo de energia
mental e emocional que estava disputando o poder dentro de você.
O ego é esperto, portanto, você tem de estar alerta, presente e ser 100 por cento honesto consigo mesmo
para verificar se abandonou realmente sua identificação com uma posição mental e se libertou, assim, da sua
mente. Se você se sentir leve, livre e profundamente em paz, é sinal de que você se entregou completamente.
Observe então o que acontece à posição mental da outra pessoa, já que você não mais a energiza ao oferecer
resistência. Quando abrimos mão da identificação com as nossas posições mentais, começa a verdadeira
comunicação.
E quanto à não-resistência diante da violência?
– 93 –
Não-resistência não significa necessariamente não fazer nada. Significa que qualquer “fazer” se toma
não-reação. Lembre-se da profunda sabedoria implícita na prática das artes marciais orientais: não ofereça
resistência à força opositora. Submeta-se para superá-la.
Tendo estabelecido isso, “não fazer nada” quando estamos em um estado de intensa presença é um
poderoso transformador e curador de situações e de pessoas. No taoísmo, existe a expressão wu wei, que é
comumente traduzida por “atividade sem ação” ou “sentar-se silenciosamente sem fazer nada”. Na antiga China,
isso era considerado como uma das mais elevadas conquistas ou virtudes. É radicalmente diferente da
inatividade, no estado comum da consciência, ou melhor, da inconsciência, que tem raízes no medo, na
indolência ou na indecisão. O verdadeiro “fazer nada” implica uma não-resistência interior e um intenso estado
de alerta.
Por outro lado, caso haja necessidade de ação, você não vai mais reagir a partir da sua mente
condicionada, mas vai responder a uma situação com a sua presença consciente. Nesse estado, a mente é livre de
conceitos, incluindo o conceito da não-violência. Então, quem pode prever o que você vai fazer?
O ego acredita que a nossa força reside em nossa resistência, quando, na verdade, a resistência nos separa
do Ser, o único lugar de força verdadeira. A resistência é a fraqueza e o medo disfarçados de força. O que o ego
vê como fraqueza é o Ser em sua pureza, inocência e poder. O que ele vê como força é fraqueza. Assim, o ego
existe num modo contínuo de resistência e desempenha papéis falsos para encobrir a “fraqueza”, que, na
verdade, é o nosso poder.
Até que haja a entrega, a representação inconsciente de determinados papéis se constitui em grande parte
da interação humana. Na entrega, não mais precisamos das defesas do ego e das falsas máscaras. Passamos a ser
muito simples, muito reais. “Isso é perigoso”, diz o ego. “Você vai se machucar. Vai ficar vulnerável”. O ego
não sabe, é claro, que somente quando deixamos de resistir, quando nos tornamos vulneráveis, é que podemos
descobrir a nossa verdadeira e fundamental invulnerabilidade.
Transformando a doença em iluminação
Se alguém está seriamente doente e aceita a doença, será que não estaria abrindo mão de sua vontade de
recuperar a saúde? Ainda teria determinação para combater a doença?
A entrega é a aceitação interior daquilo que é, sem nenhuma condição. Estamos falando sobre a sua vida,
este momento, e não sobre as condições ou circunstâncias da sua vida, não daquilo que eu chamo situação de
vida. Já tratamos desse assunto.
As doenças fazem parte da nossa situação de vida. Assim, possuem um passado e um futuro. O passado e
o futuro formam um contínuo sem interrupção, a menos que o poder redentor do Agora seja ativado através da
nossa presença consciente. Como você sabe, por baixo das várias condições que constituem a nossa situação de
vida, que existe no tempo, há uma coisa mais profunda, mais essencial: a sua Vida, o seu próprio Ser dentro do
eterno Agora.
Como não existem problemas no Agora, as doenças também não existem. Acreditar em um rótulo que
alguém confere às nossas condições fortalece-as e constrói uma realidade aparentemente sólida em torno de um
desequilíbrio temporário. Isso não só confere realidade e solidez, mas também uma continuidade no tempo que
não havia antes. Ao se concentrar neste instante e evitar rotular a doença mentalmente, ela se reduz a um dos
seguintes fatores: sofrimento físico, fraqueza, desconforto ou invalidez. É a isso que você se entrega, agora.
Você não se entrega à idéia da “doença”. Deixe o sofrimento trazer você para o momento presente, para um
estado de presença intensa consciente. Use-o para a iluminação.
A entrega não transforma aquilo que é, ao menos não diretamente. A entrega transforma você. Quando
você estiver transformado, todo o seu mundo fica transformado, porque o mundo é somente um reflexo. Se você
se olha no espelho e não gosta do que vê, tem que ter enlouquecido para agredir a imagem no espelho. É
exatamente assim que você age quando está em um estado de não-aceitação. E, naturalmente, se você agride a
imagem, ela ataca você de volta. Se você aceita a imagem, não importa qual ela seja, se tem uma postura
amigável em relação a ela, a imagem não consegue não se tornar amigável em relação a você. É dessa forma
que você consegue mudar o mundo.
– 94 –
A doença não é o problema. Você é o problema, enquanto a mente estiver no controle. Quando você
estiver doente ou incapacitado, não sinta que fracassou de alguma forma, não sinta culpa de nada. Não culpe a
vida por tratar você tão mal, mas também não se culpe de nada. Tudo isso é resistência. Se você tem uma
doença grave, use-a para alcançar a iluminação. Use qualquer coisa ruim que acontecer na sua vida para
alcançar a iluminação. Retire o tempo da doença. Não dê a ela nenhum passado ou futuro. Deixe-a forçar você
para a percepção intensa do momento presente. E veja o que acontece.
Torne-se um alquimista. Transforme o metal em ouro, o sofrimento em consciência, a infelicidade em
iluminação.
Você está gravemente doente e sentindo raiva do que acabei de dizer? Então esse é um sinal claro de que
a doença se tornou parte do seu sentido de eu interior e que, neste momento, você está protegendo a sua
identidade e também protegendo a doença. A circunstância que foi rotulada de “doença” não tem nada a ver
com quem você realmente é.
Quando a infelicidade ataca
No que diz respeito à maioria da população ainda inconsciente, somente uma situação crítica tem o
potencial de quebrar a dura casca do ego e forçar as pessoas a uma entrega e, desse modo, a um estado
iluminado. Uma situação-limite surge quando uma infelicidade, uma mudança drástica, uma perda ou
sofrimento profundo despedaça todo o mundo da pessoa, tornando-o sem sentido. É um encontro com a morte,
seja ela física ou psicológica. A mente, a criadora desse mundo, entra em colapso. Das cinzas desse velho
mundo, um novo mundo pode, então, passar a existir.
Não existe nenhuma garantia de que uma situação-limite vai fazer isso acontecer, mas o potencial está
sempre ali. A resistência de algumas pessoas àquilo que é pode até aumentar em uma situação como essa,
tornando a vida um inferno. Outras pessoas podem se entregar parcialmente, mas mesmo isso vai lhes dar uma
profundidade e uma serenidade que elas não tinham antes. A casca do ego se quebra em alguns pontos e isso
permite que pequenas porções de esplendor e de paz brilhem.
As situações-limite têm produzido muitos milagres. Muitos assassinos que estavam no corredor da morte
à espera da execução experimentaram, em suas últimas horas de vida, uma existência dissociada do ego e a
profunda paz e alegria que a acompanham. A resistência interior à situação em que se encontravam se tornou tão
intensa que produziu um sofrimento insuportável, e não havia nenhum lugar para onde correr e nada a fazer para
escapar dela, nem mesmo um projeto da mente para o futuro. Assim, eles foram forçados a uma completa
aceitação do inaceitável. Foram forçados à entrega. Nesse sentido, foram capazes de penetrar no estado de graça
que traz a redenção: uma libertação completa do passado. Não é a situação-limite que dá espaço ao milagre da
graça e da redenção, mas sim o ato de entrega.
Portanto, sempre que acontecer uma desgraça ou alguma coisa de ruim em sua vida – uma doença, a
perda da casa, do patrimônio ou de uma posição social, o rompimento de um relacionamento amoroso, a morte
ou o sofrimento por alguém, ou a proximidade da sua própria morte –, saiba que existe um outro lado e que você
está a apenas um passo de distância de algo inacreditável: uma completa transformação alquímica da base de
metal da dor e do sofrimento em ouro. Esse passo simples é chamado de entrega.
Não estou querendo dizer que você vai ficar feliz em uma situação dessas. Não vai. Mas o medo e o
sofrimento vão se transformar em uma paz interior e uma serenidade que vêm de um lugar muito profundo, do
próprio Não Manifesto. Essa é a “paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento”. Comparada a isso, a
felicidade é quase uma coisa superficial. Com essa paz radiante, vem a percepção – não no nível da mente, mas
dentro das profundezas do seu Ser – de que você é indestrutível, imortal. Isso não é uma crença. É uma certeza
absoluta, que não precisa de uma manifestação exterior nem de qualquer prova.
Transformando o sofrimento em paz
– 95 –
Li a respeito de um filósofo estóico na Grécia antiga que, ao saber da morte do filho em um acidente,
respondeu: “Eu sabia que ele não era imortal”. Isso é entrega? Se for, não a desejo para mim. Existem
algumas situações em que a entrega parece uma coisa forçada e desumana.
Suprimir nossos sentimentos não é entrega. Mas também não sabemos qual era o estado interior do
filósofo, quando disse essas palavras. Em situações extremas, pode ser impossível aceitar o Agora, mas sempre
temos uma segunda chance na entrega.
Nossa primeira chance é nos entregarmos, a cada instante, à realidade do momento. Sabendo que aquilo
que é não pode ser desfeito – porque já é –, dizemos sim àquilo que é ou aceitamos o que não é. Então fazemos
o que tem de ser feito, o que quer que a situação exija. Se nos submetemos a esse estado de aceitação, deixamos
de criar negatividade, sofrimento ou infelicidade. Passamos a viver em um estado de não-resistência, um estado
de graça e de luz, livre das disputas.
Sempre que você for incapaz de realizar isso, sempre que perder essa oportunidade, seja porque não está
gerando uma presença consciente o bastante para evitar o surgimento do padrão de resistência habitual, seja
porque as circunstâncias são tão extremas que são completamente inaceitáveis, você está criando alguma forma
de dor, alguma forma de sofrimento. Pode parecer que é a situação que está causando o sofrimento, mas não é
bem assim: a responsável é a sua resistência.
Aqui está a sua segunda chance de entrega. Se você não consegue aceitar o que está lá fora, aceite então o
que está dentro. Isso quer dizer, não resista ao sofrimento. Permita que ele esteja ali. Entregue-se ao pesar, ao
desespero, ao medo, à solidão, ou a qualquer forma que o sofrimento assuma. Abrace o sofrimento. Veja, então,
como o milagre da entrega transforma o sofrimento profundo em uma paz profunda. Essa é a sua crucificação.
Permita que ela seja a sua ressurreição e ascensão ao céu.
Não consigo entender como alguém pode se entregar ao sofrimento. Como você já mencionou, o
sofrimento é a não-entrega. Como poderia me entregar à não-entrega?
Esqueça a entrega por um instante. Quando a sua dor é profunda, tudo o que se disser a respeito de
entrega vai, provavelmente, lhe parecer superficial e sem sentido. Quando o seu sofrimento é profundo, você
provavelmente tem um grande anseio de escapar e de não se entregar a ele. Você não quer sentir o que está
sentindo. O que pode ser mais normal? Mas não tem escapatória, nenhuma saída. Existem algumas pseudosaídas
como o trabalho, a bebida, as drogas, a raiva, as projeções, as abstenções, etc., mas elas não libertam você
do sofrimento. O sofrimento não diminui de intensidade quando você o torna inconsciente. Quando você nega o
sofrimento emocional, tudo o que você faz ou pensa fica contaminado por ele. Você o irradia, por assim dizer,
como a energia que se desprende de você, e outros vão captá-lo subliminarmente. Se essas pessoas estiverem
inconscientes, podem até se ver compelidas a agredir ou machucar você de alguma forma, ou você pode
machucá-las em uma projeção inconsciente do seu sofrimento. Você atrai e transmite aquilo que corresponde ao
seu estado interior.
Quando não existe caminho para fora, existe sempre um caminho através. Portanto, não fuja do
sofrimento. Enfrente-o. Sinta-o plenamente. Sinta-o, mas não pense a respeito dele! Fale dele, se necessário,
mas não crie uma história na sua mente a respeito dele. Dê toda a sua atenção ao sofrimento, não à pessoa ou ao
acontecimento que pode tê-lo provocado. Não permita que a mente use o sofrimento para criar uma identidade
de vítima para você em função dele. Sentir pena de si mesmo e contar a sua história aos outros vai fazer com
que você fique paralisado no sofrimento. Se for impossível se afastar desse sentimento, a única possibilidade de
mudança é se mover em direção a ele, do contrário, nada vai mudar. Portanto, dê a sua completa atenção ao que
você sente e evite dar um nome a isso mentalmente. Ao se dirigir para o sentimento, fique intensamente alerta.
No princípio, pode parecer um lugar escuro e aterrador, e quando vier o impulso para se afastar, observe-o, mas
não se deixe guiar por ele. Permaneça colocando a sua atenção no sofrimento, permaneça sentindo o pesar, o
medo, o pavor, a solidão, o que for. Fique alerta, fique presente, com todo o seu Ser, com cada célula do seu
corpo. Ao fazer isso, você está trazendo uma luz para a escuridão. É a chama da sua consciência.
Nesse ponto, você não precisa mais se preocupar com a entrega. Ela já aconteceu. Como? A atenção
completa é a aceitação completa, é entrega. Ao dar atenção completa, você está usando o poder do Agora, que é
o poder da sua presença. Nenhum indício de resistência consegue sobreviver nele. A presença remove o tempo.
Sem o tempo, nenhum sofrimento e nenhuma negatividade conseguem sobreviver.
– 96 –
A aceitação do sofrimento é uma viagem em direção à morte. Encarar o sofrimento profundo, permitindo
que ele exista, colocando a sua atenção sobre ele, é entrar na morte conscientemente. Quando tiver morrido essa
morte, você perceberá que não existe morte e que não há nada a temer. Só quem morre é o ego. Imagine um raio
de sol que se esqueceu que é uma parte inseparável do sol, acredita que precisa lutar pela sobrevivência e, assim,
cria e se apega a uma outra identidade diferente do sol. Será que a morte dessa ilusão não seria incrivelmente
libertadora?
Você quer ter uma morte fácil? Você prefere morrer sem sofrimento, sem agonia? Então, morra para o
passado a cada instante e permita que a luz da sua presença apague o pesado e limitado “eu” que você pensou
que era “você”.
O caminho da cruz
Existem muitos relatos de pessoas que dizem ter encontrado Deus através de um sofrimento profundo, e
há também a expressão cristã “o caminho da cruz”, que acredito apontar para a mesma coisa.
Esse é o nosso principal interesse aqui. Na verdade, essas pessoas não encontraram Deus através do
sofrimento, porque sofrimento supõe resistência. Elas encontraram Deus através da entrega, da completa
aceitação daquilo que é, aonde chegaram por força do sofrimento intenso por que passaram. Elas devem ter
percebido, em algum momento, que eram elas que geravam o sofrimento.
Como você compara a entrega com o encontro com Deus?
Como a resistência é inseparável da mente, o abandono da resistência – a entrega – é o fim da atuação
dominadora da mente, do impostor fingindo ser “você”, o falso deus. Todo o julgamento e toda a negatividade
se dissolvem. A região do Ser, que tinha sido encoberta pela mente, se abre. De repente, surge uma grande
serenidade dentro de você, uma imensa sensação de paz. E dentro dessa paz existe uma grande alegria. E dentro
dessa alegria existe amor. E lá no fundo está o sagrado, o incomensurável, o que não pode ser nomeado.
Não chamo isso de encontrar Deus, porque como se pode encontrar o que nunca foi perdido, a própria
vida que é você? A palavra Deus é limitadora, não somente por causa de milhares de anos de má interpretação e
uso equivocado, mas também porque pressupõe uma outra identidade que não é você. Deus é o próprio Ser, não
um ser. Não pode haver nenhuma relação aqui de sujeito-objeto, nenhuma dualidade, nenhum você e Deus. A
percepção de Deus é a coisa mais natural que existe. O fato estranho e incompreensível não é que possamos nos
tornar conscientes de Deus, mas sim que não somos conscientes de Deus.
O caminho da cruz a que você se referiu é o velho caminho para a iluminação, e até recentemente era o
único caminho. Mas não o rejeite nem subestime sua eficácia. Ele ainda funciona.
O caminho da cruz é uma inversão completa. Significa que a pior coisa na sua vida, a sua cruz, se
transforma na melhor coisa que já aconteceu, ao forçar você para a entrega, para a “morte”, ao forçar você a se
tornar nada, a se tornar como Deus, porque Deus também é coisa nenhuma.
Nesse momento, para a maioria inconsciente dos seres humanos, o caminho da cruz ainda é o único
caminho. Eles só vão acordar através de mais sofrimento e a iluminação, como um fenômeno coletivo, será
precedida por grandes revoluções. Esse processo reflete o funcionamento de certas leis universais que governam
o crescimento da consciência e já previsto por alguns videntes. Ele é descrito, dentre outros lugares, no Livro
das Revelações ou Apocalipse, embora disfarçado em uma simbologia obscura e algumas vezes
incompreensível. Esse sofrimento não é imposto por Deus, mas pelos próprios humanos, assim como por certas
medidas defensivas que a Terra, que é um organismo vivo e inteligente, vai adotar para se proteger do ataque
furioso da loucura humana.
– 97 –
Entretanto, existe um número crescente de seres humanos cuja conscientização está suficientemente
desenvolvida para não precisar de nenhum sofrimento adicional antes de alcançar a iluminação. Talvez você
seja um deles.
A iluminação através do sofrimento, o caminho da cruz, significa ser levado para o reino dos céus,
esperneando e gritando. Você finalmente se entrega porque já não suporta mais sofrer. A iluminação escolhida
conscientemente significa abandonar nossos apegos ao passado e ao futuro e fazer do Agora o ponto principal
da nossa vida. Significa escolher permanecer no estado de presença e não no tempo. Significa dizer sim àquilo
que é. Você já não precisa mais sofrer. De quanto tempo você precisa para ser capaz de dizer “Não vou mais
criar dores, nem sofrimentos”? Quanto você ainda tem que sofrer antes de fazer essa escolha?
Se você pensa que precisa de mais tempo, você terá mais tempo – e mais sofrimento. O tempo e o
sofrimento são inseparáveis.
O poder de escolher
Por que tantas pessoas escolhem o sofrimento? Tenho uma amiga cujo companheiro abusa fisicamente
dela e que já viveu o mesmo problema em uma relação anterior. Por que ela escolhe esse tipo de homem e por
que se recusa a sair dessa situação?
Sei que a palavra escolher é um termo muito usado na Nova Era, mas não é apropriado ao presente
contexto. É uma ilusão dizer que alguém “escolhe” um relacionamento problemático ou alguma outra situação
negativa na vida. Uma escolha sugere uma consciência, um alto grau de consciência. Sem ela, não há escolha. A
escolha começa no instante em que nos desidentificamos da mente e de seus padrões condicionados, o instante
em que nos tornamos presentes. Até alcançar esse ponto, você está inconsciente, espiritualmente falando.
Significa que você foi obrigado a pensar, sentir e agir de determinadas maneiras, de acordo com o
condicionamento da sua mente. É por isso que Jesus disse: “Perdoai-os, porque eles não sabem o que fazem”.
Isso não está relacionado à inteligência no sentido convencional da palavra. Já encontrei inúmeras pessoas
altamente inteligentes e educadas que eram também completamente inconscientes, o que significa dizer,
completamente identificadas com suas mentes. Na verdade, se o desenvolvimento mental e o aumento do
conhecimento não são contrabalançados por um crescimento correspondente na consciência, o potencial para a
infelicidade e o desastre é muito grande.
Sua amiga está paralisada em um relacionamento com um parceiro abusivo e não é a primeira vez. Por
quê? Porque não escolheu. A mente, condicionada como é pelo passado, sempre busca recriar o que conhece e
com o que está familiarizada. Mesmo que seja doloroso, ao menos é familiar. A mente sempre se apega ao que
lhe é familiar. O desconhecido é perigoso porque ela não tem controle sobre ele. É por isso que a mente não
gosta do momento presente e prefere ignorá-lo. A percepção do momento presente cria um espaço, não somente
no fluxo da mente, mas também no contínuo do passado e futuro. Nada realmente novo e criativo pode
acontecer nesse mundo a não ser através desse espaço, um espaço nítido com infinitas possibilidades.
Portanto, sua amiga pode estar recriando um padrão aprendido no passado no qual a intimidade e o abuso
eram inseparavelmente relacionados. Por outro lado, ela pode estar representando um padrão mental aprendido
na infância, segundo o qual ela é alguém desprezível e merece ser punida. É também possível que ela viva
grande parte da vida através do sofrimento, que está sempre em busca de mais sofrimento para se alimentar. O
parceiro também tem seus próprios padrões inconscientes, que completam os dela. Quem criou essa situação? A
sua própria amiga, ou melhor, o falso eu interior dela, um padrão mental e emocional do passado, nada mais do
que isso. Se você lhe disser que ela escolheu essa situação, estará reforçando o estado de identificação dela com
a mente. Mas o padrão mental é ela? Sua verdadeira identidade é derivada do passado? Mostre à sua amiga
como ser a presença observadora por trás dos pensamentos e das emoções. Conte-lhe sobre o sofrimento e como
se libertar dele. Ensine-a a arte da percepção do corpo interior. Demonstre o sentido da presença. Assim que ela
for capaz de acessar o poder do Agora e, em conseqüência, romper com o passado condicionado, ela vai ter uma
escolha.
Ninguém escolhe o problema, a briga, o sofrimento. Ninguém escolhe a doença. Elas acontecem porque
não existe presença suficiente para dissolver o passado, ou luz suficiente para dispersar a escuridão. Você não
está aqui por inteiro. Você ainda não acordou. Nesse meio tempo, a mente condicionada está governando a sua
vida.
– 98 –
Do mesmo modo, se você é uma das inúmeras pessoas que têm assuntos mal resolvidos com os pais, se
ainda guarda ressentimentos por alguma coisa que eles fizeram ou deixaram de fazer, então você ainda acredita
que eles tiveram uma escolha e que poderiam ter agido diferente. Sempre parece que as pessoas fizeram uma
escolha, mas isso é ilusão. Enquanto a sua mente, com os seus padrões de condicionamento, dirigir a sua vida,
enquanto você for a sua mente, que escolhas você tem? Nenhuma. Você não está nem ligando. O estado
identificado com a mente é altamente defeituoso. É uma forma de insanidade. Quase todas as pessoas estão
sofrendo dessa doença em vários graus. No momento em que você perceber isso, não haverá mais
ressentimento. Como você pode se ressentir com a doença de alguém? A única resposta adequada é compaixão.
Quer dizer que ninguém é responsável pelos atos que pratica? Não gosto dessa idéia.
Se você é governado pela mente, embora não tenha escolha, vai sofrer as conseqüências da sua
inconsciência e criar mais sofrimento. Você vai carregar o fardo do medo, das disputas, dos problemas e do
sofrimento. Até que o sofrimento force você, no final, a sair do seu estado de inconsciência.
O que você diz a respeito da escolha também se aplica ao perdão, suponho. Precisamos estar
inteiramente conscientes e entregues antes de poder perdoar.
“Perdão” é uma palavra que vem sendo usada há mais de dois mil anos, mas a maioria das pessoas tem
uma visão muito limitada do que ela significa. Não podemos perdoar a nós mesmos ou aos outros enquanto
extrairmos do passado o nosso sentido do eu interior. Somente acessando o poder do Agora, que é o seu próprio
poder, pode haver um verdadeiro perdão. Isso tira a força do passado e você percebe, profundamente, que nada
que você fez ou que os outros lhe fizeram poderia atingir, nem de leve, a radiante essência de quem você é.
Todo o conceito de perdão se torna então desnecessário.
E como chego a esse ponto de consciência?
Quando nos rendemos àquilo que é e assim ficamos inteiramente presentes, o passado deixa de ter
qualquer força. Não precisamos mais dele. A presença é a chave. O Agora é a chave.
Quando vou saber que me entreguei?
Quando você não precisar mais fazer essa pergunta.

capítulo nove

MUITO ALÉM DA FELICIDADE E DA INFELICIDADE EXISTE A PAZ
O bem supremo além do bem e do mal
Existe diferença entre felicidade e paz interior?
Existe. A felicidade depende de circunstâncias consideradas positivas, ao passo que a paz interior não
precisa delas.
Há possibilidade de só atrairmos coisas positivas para as nossas vidas? Se a nossa atitude e o nosso
pensamento forem sempre positivos, só haverá situações e acontecimentos positivos, não é mesmo?
Você pode afirmar, com certeza, o que é positivo e o que é negativo? Já fez o levantamento completo?
Muitas pessoas devem ter aprendido bastante com as suas próprias limitações, seus fracassos, suas perdas, suas
doenças e sofrimentos. Tudo isso ensinou-as a se desfazer das imagens falsas que tinham de si mesmas, dos
desejos e objetivos superficiais ditados pelo ego e lhes deu profundidade, humildade e compaixão. Fez delas
pessoas mais reais.
Sempre que acontece alguma coisa negativa, há sempre uma lição embutida, embora nem sempre se
perceba isso na hora. Uma doença ou um acidente pode mostrar o que há de real ou irreal em uma situação,
aquilo que é importante e o que não é.
De uma perspectiva mais elevada, as circunstâncias são sempre positivas. Para ser mais preciso, elas não
são positivas nem negativas. São do jeito que são. E quando aceitamos as coisas como são, o “bem” ou o “mal”
deixam de existir em nossas vidas. Só o que existe é um bem supremo, que inclui o “mal”. Mas, pela perspectiva
da mente, existe o bem e o mal, o igual e o diferente, o amor e o ódio. É por isso que no Livro do Gênesis está
escrito que Adão e Eva não tiveram mais permissão para habitar o “paraíso” quando “comeram da árvore do
conhecimento do bem e do mal”.
Isso me parece negação e ilusão. Quando alguma coisa ruim acontece comigo, ou com alguém chegado a
mim, tal como um acidente, uma doença, ou a morte, posso até fingir que não é mal mas permanece o fato de
que isso é mal. Por que negar?
Você não está fingindo nada. Só está permitindo uma coisa ser como é, apenas isso. Essa “permissão para
ser” nos transporta para além da mente, com os seus padrões de resistência que geram as polaridades positiva e
negativa. É um aspecto fundamental do perdão. Perdoar o presente é até mais importante do que perdoar o
passado. Se perdoarmos cada momento, se permitirmos que ele seja como é, não haverá nenhum acúmulo de
ressentimento a ser perdoado mais tarde.
Lembre-se de que não estamos aqui tratando de felicidade. Por exemplo, quando a pessoa amada acabou
de morrer, ou se sentimos a nossa própria morte se aproximar, não podemos nos sentir felizes. É impossível.
Mas podemos estar em paz. Pode até haver tristeza e lágrimas, mas, se deixarmos de resistir, conseguiremos
perceber uma profunda serenidade por baixo da tristeza, uma calma, uma presença sagrada. Isso é a emanação
do Ser, isso é a paz interior, o bem que não tem opositores.
E se for uma situação sobre a qual eu possa fazer algo a respeito? Como posso permitir que ela exista e
mudá-la ao mesmo tempo?
– 79 –
Faça o que você tem de fazer. Enquanto isso, aceite o que é. Como mente e resistência significam a
mesma coisa para nós, aceitar aquilo que acontece nos liberta na mesma hora do domínio da mente e restabelece
a nossa conexão com o Ser. Como resultado, as costumeiras motivações do ego para “agir”, como o medo, a
cobiça, o controle, a defesa ou a alimentação do falso sentido do ego, não vão mais funcionar. Uma inteligência
muito maior do que a mente passa a dominar tudo e, com isso, uma diferente qualidade de consciência vai
influenciar as nossas ações.
“Aceite o que quer que venha para você nas tramas do destino, pois o que se ajustaria mais
adequadamente às suas necessidades?” Isso foi escrito há dois mil anos por Marco Aurélio, um homem
extraordinário que, além de poderoso, tinha uma grande sabedoria.
Parece que a maioria das pessoas precisa vivenciar uma grande carga de sofrimento antes de abandonar a
resistência e aceitar, isto é, antes de perdoar. Com o perdão, acontece o milagre do despertar da consciência do
Ser, através do que aparenta ser o mal: a transformação do sofrimento em paz interior. Todo o mal e todo o
sofrimento do mundo vão nos forçar a descobrir quem somos realmente. Assim, aquilo que, de uma perspectiva
limitada, percebemos como o mal é, na verdade, parte de um bem maior que não tem opositores. Entretanto, isso
só se torna uma verdade através do perdão. Sem ele, o mal permanece como mal.
Através do perdão – que significa reconhecer a falta de consistência do passado e permitir que o momento
presente seja como é –, acontece o milagre da transformação, não só no lado de dentro, mas também do lado de
fora. Um espaço silencioso de uma presença intensa surge dentro de nós e à nossa volta. Quem quer e o que for
que penetre no campo da consciência será afetado, algumas vezes de forma clara e imediata, outras em níveis
mais profundos, com mudanças só notadas algum tempo depois. Você dissolve a discórdia, cura o sofrimento,
desfaz a inconsciência, sem fazer nada, simplesmente sendo e sustentando essa freqüência de presença intensa.
O fim dos dramas em sua vida
Nesse estado de aceitação e paz interior, pode aparecer alguma coisa na vida para ser chamada de
“má”, da perspectiva da consciência comum?
Muitas das assim chamadas coisas más que nos acontecem na vida são devidas à inconsciência. Elas são
criadas por nós, ou melhor, são criadas pelo ego. Refiro-me a isso, às vezes, como “drama”. Quando
restabelecemos a conexão com o Ser e não deixamos mais a mente governar, paramos de criar essas coisas.
Mas há muitas pessoas que se apaixonam pelos seus dramas particulares de vida. Identificam-se com suas
histórias. O ego governa a vida delas. Investiram nele todo o sentido de eu interior. Até mesmo a busca de uma
resposta, de uma solução, ou de uma cura se torna parte dele. O que mais temem é que seus dramas tenham um
fim. Enquanto essas pessoas forem a mente, seu maior medo será o próprio despertar.
Quando vivemos em uma completa aceitação do que é, todos os dramas da nossa vida chegam ao fim.
Ninguém consegue ter a mais leve discussão conosco, não importa quanto tente. Não se pode discutir com
alguém completamente consciente. Uma discussão implica uma identificação com a mente e uma determinada
posição mental, tal como resistência e reação às posições da outra pessoa. O resultado é que as polaridades
opostas ficam mutuamente energizadas. Esses são os mecanismos da inconsciência. Ainda podemos estabelecer
o nosso ponto de vista de modo claro e firme, mas não haverá nenhuma força reagindo ao fundo, nenhuma
defesa e nenhuma agressão. Assim, não se transformará em um drama. Quando estamos completamente
conscientes, deixamos de estar em conflito. “Ninguém que esteja em unidade consigo mesmo consegue pensar
em conflito”, diz o livro A Course in Miracles (Um curso em milagres). O livro se refere não só ao conflito com
outras pessoas, mas, fundamentalmente, ao conflito dentro de nós, que deixa de existir quando não há mais
nenhum desacordo entre as buscas e expectativas da nossa mente e aquilo que é.
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A impermanência e os ciclos da vida
Enquanto permanecermos na dimensão física e em conexão com a psique humana coletiva, o sofrimento,
embora raro, ainda pode acontecer. Não devemos confundi-lo com o sofrimento emocional. Todo sofrimento é
criado pelo ego e fruto de uma resistência. Além disso, nessa dimensão, ainda nos sujeitamos à natureza cíclica
e à lei da impermanência de todas as coisas, mas já não vemos mais o sofrimento como uma coisa “má”. Ele
simplesmente é.
Ao permitir o “existir” de todas as coisas, uma dimensão mais profunda, por baixo do jogo dos opostos,
se revela para nós como uma presença permanente, uma serenidade profunda e estável, uma alegria sem motivos
que se situa além do bem e do mal. Essa é a alegria do Ser, a paz de Deus.
No nível da forma existe nascimento e morte, criação e destruição, crescimento e dissolução de espécies
aparentemente independentes. Podemos ver isso em tudo: no ciclo da vida de uma estrela ou de um planeta, em
um corpo físico, em uma árvore, em uma flor; na ascensão e queda de nações, de sistemas políticos e de
civilizações, e também nos inevitáveis ciclos de lucros e perdas que temos na vida.
Existem ciclos de sucesso, como quando as coisas acontecem e dão certo, e ciclos de fracasso, quando
elas não vão bem e se desintegram. Você tem de permitir que elas terminem, dando espaço para que coisas
novas aconteçam ou se transformem. Se nos apegamos às situações e oferecemos uma resistência nesse estágio,
significa que estamos nos recusando a acompanhar o fluxo da vida e que vamos sofrer.
Não é verdade que o ciclo ascendente seja bom e o ciclo descendente seja ruim, a não ser no julgamento
da mente. O crescimento é, em geral, considerado positivo, mas nada pode crescer para sempre. Se o
crescimento nunca tivesse fim, poderia acabar em algo monstruoso e destrutivo. É necessário que as coisas
acabem, para que coisas novas aconteçam.
O ciclo descendente é absolutamente essencial para uma realização espiritual. Você tem de ter falhado
gravemente de algum modo, ou passado por alguma perda profunda, ou algum sofrimento, para ser conduzido à
dimensão espiritual. Ou talvez o seu sucesso tenha se tornado vazio e sem sentido e se transformado em
fracasso. O fracasso está sempre embutido no sucesso, assim como o sucesso está sempre encoberto pelo
fracasso. No mundo da forma, todas as pessoas “fracassam” mais cedo ou mais tarde, e toda conquista acaba em
derrota. Todas as formas são impermanentes.
Você pode ser ativo e apreciar a criação de novas formas e circunstâncias, mas não se sentirá identificado
com elas. Você não precisa delas para obter um sentido de eu interior. Elas não são a sua vida, pertencem à sua
situação de vida.
Nossa energia física também está sujeita a ciclos. Não consegue estar sempre no máximo. Teremos
momentos de baixa e de alta energia. Em alguns períodos, estaremos altamente ativos e criativos, mas em outros
tudo vai parecer estagnado, teremos a impressão de não estarmos indo a lugar nenhum, nem conseguindo nada.
Um ciclo pode durar de algumas horas a alguns anos e dentro dele pode haver ciclos longos ou curtos. Muitas
doenças são provocadas pela luta contra os ciclos de baixa energia, que são fundamentais para uma renovação.
Enquanto estivermos identificados com a mente, não poderemos evitar a compulsão de fazer coisas e a
tendência para extrair o nosso valor de fatores externos, tais como as conquistas que alcançamos. Isso torna
difícil ou impossível para nós aceitarmos os ciclos de baixa e permitirmos que eles aconteçam. Assim, a
inteligência do organismo pode assumir o controle, como uma medida autoprotetora, e criar uma doença com o
objetivo de nos forçar a parar, de modo a permitir que uma necessária renovação possa acontecer.
A natureza cíclica do universo está intimamente ligada à impermanência de todas as coisas e situações.
Buda fez disso uma parte central de seu ensinamento. Todas as circunstâncias são altamente instáveis e estão em
um fluxo constante, ou, como ele colocou, a impermanência é uma característica de cada circunstância, de cada
situação com que vamos nos deparar na vida. Elas vão se modificar, desaparecer, ou deixar de proporcionar
prazer. A impermanência também é um ponto central dos ensinamentos de Jesus: “Não acumule tesouros na
terra, onde as traças e a ferrugem arruínam tudo, onde os ladrões arrombam as paredes para roubar...”
Enquanto a mente julgar uma circunstância “boa”, seja um relacionamento, uma propriedade, um papel
social, um lugar, ou o nosso corpo físico, ela se apega e se identifica com ela. Isso faz você se sentir bem em
relação a si mesmo e pode se tornar parte de quem você é ou pensa que é. Mas nada dura muito nessa dimensão,
onde as traças e a ferrugem devoram tudo. Tudo acaba ou se transforma: a mesma condição que era boa no
passado, de repente, se torna ruim. A prosperidade de hoje se torna o consumismo vazio de amanhã. O
casamento feliz e a lua-de-mel se transformam no divórcio infeliz ou em uma convivência infeliz. A mente não
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consegue aceitar quando uma situação com a qual ela tenha se apegado muda ou desaparece. Ela vai resistir à
mudança. É quase como se um membro estivesse sendo arrancado do seu corpo.
Às vezes ouvimos falar de pessoas que cometeram suicídio porque perderam a fortuna ou tiveram sua
reputação arruinada. Esses são casos extremos. Outras pessoas, ao sofrer uma grande perda, tornam-se
profundamente infelizes ou adoecem. Não conseguem distinguir a vida da situação de vida. Li recentemente
sobre uma famosa atriz que morreu depois dos oitenta anos e foi ficando cada vez mais infeliz e reclusa
conforme envelhecia. Ela estava identificada com uma circunstância: a sua aparência externa. No início, isso lhe
deu um sentido feliz do eu interior, depois um sentido infeliz. Se tivesse sido capaz de se conectar com a vida
interior, que é dissociada da forma e do tempo, ela poderia ter aceitado o desaparecimento da beleza,
observando-a de um lugar de serenidade e paz. Além do mais, sua aparência teria se tornado cada vez mais
transparente à luz que brilha através da verdadeira natureza, de modo que a beleza externa não teria sumido, mas
se transformado em beleza espiritual. Porém, ninguém contou a ela que isso era possível. O tipo de
conhecimento mais básico ainda não está ao alcance de todos.
Buda ensinou que até mesmo a felicidade pessoal é dukka – uma palavra da língua páli que significa
“sofrimento” ou “insatisfação”. Ela é inseparável do seu oposto. Significa que a felicidade e a infelicidade são,
na verdade, uma coisa só. Somente a ilusão do tempo as separa.
Isso não significa uma negatividade. É simplesmente reconhecer a natureza das coisas, para não viver
atrás de uma ilusão pelo resto da vida. Nem quer dizer que você não deva mais apreciar os objetos e as
circunstâncias agradáveis e bonitas. Porém, usá-los para procurar aquilo que não podem dar – uma identidade,
um sentido de permanência e satisfação – é uma receita para a frustração e o sofrimento. Toda a indústria da
propaganda e a sociedade de consumo entrariam em colapso se as pessoas se tornassem iluminadas e deixassem
de tentar encontrar as suas identidades através dos objetos. Quanto mais usarmos esse caminho para encontrar a
felicidade, mais estaremos nos iludindo. Nada lá fora vai conseguir nos trazer satisfação, exceto por um tempo e
de modo superficial. Mas talvez você precise passar por muitas decepções antes de perceber a verdade. Os
objetos e as circunstâncias podem lhe dar prazer, mas também vão lhe trazer sofrimento. Eles podem lhe dar
prazer, mas não trazer alegria. A alegria não tem uma causa e brota dentro de nós como a alegria do Ser. É uma
parte essencial do estado de paz interior, conhecido como a paz de Deus. É o nosso estado natural, não algo por
que tenhamos de lutar para conseguir.
As pessoas, em geral, não percebem que a “salvação” não está em nada do que façam, possuam ou
consigam. Aquelas que percebem ficam, muitas vezes, enfastiadas do mundo e deprimidas. Se nada pode lhes
dar um verdadeiro prazer, será que resta alguma coisa por que se empenhar? Com que objetivo? O profeta do
Velho Testamento deve ter chegado a essa conclusão quando escreveu: “Tenho visto tudo o que se faz debaixo
do sol e eis que tudo é vaidade e uma luta contra o vento”. Quando você chega a esse ponto, está a um passo do
desespero e um passo mais longe da iluminação.
Uma vez um monge budista me disse: “Tudo o que aprendi nos vinte anos em que sou monge pode ser
resumido em uma frase: Tudo o que surge, desaparece. Isso eu sei”. O que ele quis dizer foi o seguinte: aprendi
a não oferecer qualquer resistência ao que é; aprendi a permitir que o momento presente aconteça e a aceitar a
natureza impermanente de todas as coisas e circunstâncias. Foi assim que encontrei a paz.
Não oferecer resistência à vida é estar em estado de graça, de descanso e de luz. Nesse estado, nada
depende de as coisas serem boas ou ruins. É quase paradoxal, mas, como já não existe mais uma dependência
interior quanto à forma, as circunstâncias gerais da sua vida, as formas externas, tendem a melhorar
consideravelmente. As coisas, as pessoas ou as circunstâncias que você desejava para a sua felicidade vêm agora
até você sem qualquer esforço, e você está livre para apreciá-las enquanto durarem. Todas essas coisas
naturalmente vão acabar, os ciclos virão e irão, mas com o desaparecimento da dependência não há mais medo
de perdas. A vida flui com facilidade.
A felicidade que provém de alguma coisa secundária nunca é muito profunda. É apenas um pálido reflexo
da alegria do Ser, da paz vibrante que encontramos dentro de nós ao entrarmos no estado de não-resistência. O
Ser nos transporta para além das polaridades opostas da mente e nos liberta da dependência da forma. Mesmo
que tudo em volta desabe e fique em pedaços, você ainda sentirá uma profunda paz interior. Você pode não
estar feliz, mas vai estar em paz.
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Utilizando e abandonando a negatividade
Toda resistência interior é vivenciada como uma negatividade. Toda negatividade é uma resistência.
Nesse contexto, as duas palavras são quase sinônimas. A negatividade vai de uma irritação ou impaciência a
uma raiva furiosa, de um humor deprimido ou um ressentimento a um desespero suicida. Às vezes, a resistência
faz disparar o sofrimento emocional, caso em que mesmo uma situação banal pode produzir uma negatividade
intensa, como a raiva, a depressão ou um profundo pesar.
O ego acredita que, através da negatividade, pode manipular a realidade e conseguir o que deseja.
Acredita que, através dela, pode atrair uma circunstância desejável ou dissolver uma indesejável. O livro A
Course in Miracles (Um curso em milagres) destaca corretamente isso ao afirmar que, sempre que estamos
infelizes, acreditamos inconscientemente que a infelicidade “compra” para nós o que queremos. Se “você” – a
mente – não acreditou que a infelicidade funciona, por que a criaria? O fato é que essa negatividade não
funciona. Em vez de atrair uma circunstância desejável, ela a interrompe ao nascer. Em vez de desfazer uma
circunstância indesejável, ela a mantém no lugar. Sua única utilidade é que ela fortalece o ego, e essa é a razão
pela qual ele a adora.
Uma vez que você tenha se identificado com alguma forma de negatividade, não vai querer que ela
desapareça e, em um nível inconsciente mais profundo, não vai desejar uma mudança positiva. Ela iria ameaçar
a sua identidade como uma pessoa depressiva, zangada ou difícil de lidar. Você então passa a ignorar, negar ou
sabotar aquilo que é positivo em sua vida. É um fenômeno comum. E também doentio.
A negatividade é completamente antinatural. É um poluente psíquico e existe um vínculo profundo entre
o envenenamento e a destruição da natureza e a grande negatividade que vem sendo acumulada na psique
coletiva humana. Nenhuma outra forma de vida no planeta conhece a negatividade, somente os seres humanos,
assim como nenhuma outra forma de vida violenta e envenena a Terra que a sustenta. Você já viu uma flor
infeliz ou um carvalho estressado? Já cruzou com um golfinho deprimido, um sapo com problemas de autoestima,
um gato que não consegue relaxar, ou um pássaro com ódio e ressentimento? Os únicos animais que
eventualmente vivenciam alguma coisa semelhante à negatividade, ou mostram sinais de comportamento
neurótico, são os que vivem em contato íntimo com os seres humanos e assim se ligam à mente humana e à
insanidade deles.
Observe as plantas e animais, aprenda com eles a aceitar aquilo que é e a se entregar ao Agora. Deixe que
eles lhe ensinem o que é Ser, o que é integridade – estar em unidade, ser você mesmo, ser verdadeiro. Aprenda
como viver e como morrer, e como não fazer do viver e do morrer um problema.
Vivi com alguns mestres zen – todos eles gatos. Até mesmo os patos me ensinaram importantes lições
espirituais. Observá-los é uma meditação. Como eles flutuam em paz, de bem com eles mesmos, totalmente
presentes no Agora, dignos e perfeitos, tanto quanto uma criatura sem mente pode ser. Eventualmente, no
entanto, dois patos vão se envolver em uma briga, algumas vezes sem nenhuma razão aparente ou porque um
pato penetrou no espaço particular do outro. A briga geralmente dura só alguns segundos e então os patos se
separam, nadam em direções opostas e batem suas asas com força, por algumas vezes. Então continuam a nadar
em paz, como se a briga nunca tivesse acontecido. Quando observei isso pela primeira vez, percebi, num
relance, que ao bater as asas eles estavam soltando a energia acumulada, evitando assim que ela ficasse
aprisionada no corpo e se transformado em negatividade. Isso é sabedoria natural. É fácil para eles porque não
têm uma mente para manter vivo o passado, sem necessidade, e então construir uma identidade em volta dele.
Uma emoção negativa não poderia também conter uma mensagem importante? Por exemplo, se me sinto
deprimido com freqüência, será que pode ser um sinal de que existe alguma coisa errada com a minha vida e
isso pode me forçar a olhar para a minha situação de vida e fazer mudanças?
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Poderia. As emoções negativas repetitivas podem, às vezes, conter uma mensagem, como ocorre com as
doenças. Qualquer mudança que você faça, seja ela relacionada com seu trabalho, seus relacionamentos ou seu
ambiente, é apenas uma máscara, a menos que se origine de uma mudança no seu nível de consciência. E até
onde isso interessa, só pode significar uma coisa: estar mais presente. Quando você já tiver alcançado um certo
grau de presença, não precisa mais da negatividade para lhe dizer o que é necessário na sua situação de vida.
Mas, enquanto a negatividade estiver lá, utilize-a. Use-a como um tipo de sinalizador, um lembrete para estar
mais presente.
Como impedimos que a negatividade surja e como nos livramos dela, já que está lá?
Como já afirmei, você não deixa que ela surja ao estar completamente presente. Não desanime. Ainda são
poucas as pessoas no planeta que conseguem manter um estado contínuo de presença, embora algumas já
estejam chegando bem perto. Acredito que logo serão muitas.
Sempre que perceber alguma forma de negatividade crescendo dentro de você, não olhe para ela como um
fracasso, mas sim como um sinal que está lhe dizendo: “Acorde. Largue a sua mente. Esteja presente”.
Existe um romance de Aldous Huxley chamado A Ilha, escrito em seus últimos anos de vida, quando ele
ficou muito interessado nos ensinamentos espirituais. Conta a história de um homem que naufragou perto de
uma ilha isolada do resto do mundo. Essa ilha era habitada por uma civilização especial. A coisa estranha sobre
ela é que seus habitantes, diferente do resto do mundo, eram sadios, de verdade. A primeira coisa que o
náufrago percebe são os papagaios multicoloridos empoleirados nas árvores, que davam a impressão de estar
repetindo as palavras “Atenção. Aqui e agora. Atenção. Aqui e Agora”. Adiante, descobrimos que os habitantes
da ilha ensinaram essas palavras aos papagaios para que fossem sempre lembrados para ficar presentes.
Portanto, sempre que sentir a negatividade crescer dentro de você, causada ou não por um fator externo,
um pensamento ou mesmo nada em particular, olhe para ela como se fosse uma voz dizendo “Atenção. Aqui e
Agora. Acorde”. Até mesmo a mais leve irritação é significativa e precisa ser conhecida e observada. Do
contrário, haverá um aumento cumulativo de reações não observadas. Como afirmei anteriormente, você pode
descartá-la assim que perceber que não quer ter esse campo de energia no seu interior e que ele não tem nenhum
objetivo. Mas certifique-se de que você se livrou completamente dela. Se não conseguir, simplesmente aceite
que ela está ali e concentre a sua atenção no sentimento.
Uma alternativa para descartar uma reação negativa é fazê-la desaparecer ao imaginar a si mesmo se
tornando transparente para a causa externa da reação. Recomendo que você pratique primeiro com as coisas do
dia-a-dia. Vamos dizer que você esteja em casa. De repente, vindo da rua, começa a soar um alarme insistente
de carro. Surge uma irritação. Qual é o objetivo dessa irritação? Nenhum até aqui. Por que você a criou? Você
não a criou. Quem criou foi a mente. Ela teve uma reação totalmente automática, totalmente inconsciente. Por
que a mente a criou? Porque ela sustenta a crença inconsciente de que a resistência dela, que você absorve como
alguma forma de negatividade ou infelicidade, vai dissolver a condição indesejada. Isso naturalmente é uma
ilusão. A resistência que ela cria, nesse caso a irritação ou raiva, é muito mais desagradável do que a causa
original que ela está tentando desfazer.
Tudo isso pode ser transformado em prática espiritual. Sinta-se ficando transparente, sem a solidez de um
corpo material. Agora, permita que o barulho, ou o que estiver causando a emoção negativa, passe através de
você. Ele não está mais golpeando uma “parede” sólida dentro de você. Como disse, pratique primeiro com as
coisas simples. O alarme do carro, o choro de uma criança, o barulho do tráfego. Em vez de ter uma parede de
resistência dentro de você, que é atingida de modo constante e doloroso pelas coisas que “não deveriam estar
acontecendo”, deixe que tudo passe através de você.
Alguém diz alguma coisa grosseira para ferir você. Em vez de desencadear uma reação inconsciente e
uma negatividade, como uma agressão, uma defesa, ou um retraimento, você deixa isso passar através de você.
Não ofereça resistência. É como se não existisse mais ninguém ali para ser machucado. Isso é perdão. Nesse
sentido, você se torna invulnerável. Pode dizer a essa pessoa que o comportamento dela é inaceitável, se você
escolher fazer isso. Mas essa pessoa já não tem mais o poder de controlar o seu estado interior. Você passa a
estar em seu poder – não mais em poder de alguém, nem sob o governo da mente. Quer seja um alarme de carro,
uma pessoa grosseira, uma inundação, um terremoto, ou a perda de todos os seus bens, o mecanismo de
resistência é o mesmo.
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Pratico a meditação,.freqüento seminários, leio muito sobre espiritualidade, em busca de um estado de
não-resistência. Mas, se você me perguntar se encontrei a verdadeira paz interior, minha resposta teria que ser
“não”. Por que não a encontrei? O que mais posso fazer?
Você ainda está procurando lá fora e não consegue escapar do modo de busca. Talvez o próximo
seminário lhe traga a resposta, talvez aquela nova técnica. Diria a você: não busque a paz. Não busque nenhum
outro estado além daquele em que você está agora, do contrário, vai criar um conflito interno e uma resistência
inconsciente. Perdoe a si mesmo por não estar em paz. No momento em que você aceitar completamente a sua
intranqüilidade, ela se transformará em paz. Qualquer coisa que você aceite completamente vai lhe levar até lá,
vai levar você até a paz. Esse é o milagre da entrega.
Você já deve ter ouvido a frase “dê a outra face”, que um grande mestre da iluminação empregou há dois
mil anos. Ele estava tentando transmitir simbolicamente o segredo da não-resistência e da não-reação. Nessas
palavras, como em todas as que proferiu, ele estava preocupado apenas com a nossa realidade interior, não com
a conduta externa da nossa vida.
Você conhece a história de Banzan? Antes de se tornar um grande mestre zen, ele passou muitos anos
perseguindo a iluminação, mas ela o iludia. Então, um dia, enquanto andava pelo mercado, ouviu uma conversa
entre um açougueiro e seu freguês. “Me dê o melhor pedaço de carne que você tem aí”, disse o freguês. E o
açougueiro respondeu: “Todo pedaço de carne que tenho é o melhor. Não há nenhum pedaço de carne aqui que
não seja o melhor”. Depois de ouvir isso, Banzan se tornou iluminado.
Posso ver você esperando alguma explicação. Quando aceitamos o que é, todo pedaço de carne – todo
momento – é o melhor. Isso é iluminação.
A natureza da compaixão
Tendo ultrapassado as fronteiras construídas pela mente, você passa a ser como um lago profundo. Sua
situação de vida e o que acontece no mundo exterior são a superfície do lago, às vezes calmo, às vezes cheio de
ondas por causa do vento, conforme os períodos e as estações. Lá no fundo, porém, o lago é sempre sereno.
Você é esse lago por inteiro, não apenas a superfície, e está em contato com a sua própria profundidade, que
permanece absolutamente serena. Você não reage a uma mudança ao se apegar mentalmente a qualquer
situação. A sua paz interior não depende dela. Você se fixa no Ser – imutável, eterno, imortal – e não é mais
dependente da satisfação ou da felicidade do mundo exterior, das formas constantemente flutuantes. Você pode
desfrutá-las, brincar com elas, criar novas formas, apreciar a beleza de todas. Mas não tem mais necessidade de
se apegar a nenhuma delas.
Quando você consegue se desprender desse jeito, não significa que também se distancia dos outros seres
humanos?
Pelo contrário. Enquanto você não está consciente do Ser, a realidade dos outros seres humanos vai
causar uma ilusão, porque você ainda não encontrou a sua realidade. A mente vai gostar ou não da forma deles,
não só do corpo, mas também da mente deles. O verdadeiro relacionamento só é possível quando existe uma
consciência do Ser. A partir do Ser, você vai perceber o corpo e a mente da outra pessoa como se fosse uma tela,
por trás da qual você pode sentir a verdadeira realidade deles, como você sente a sua. Assim, ao se confrontar
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com o sofrimento de outra pessoa ou com um comportamento inconsciente, você fica presente e em contato com
o Ser e, desse modo, é capaz de olhar além da forma e sentir o Ser radiante e puro da outra pessoa. No nível do
Ser, todo sofrimento é visto como uma ilusão, uma conseqüência da identificação com a forma. Milagres de
cura às vezes acontecem através dessa descoberta, através do despertar da consciência do Ser nos outros – se
estiverem prontos.
Isso é compaixão?
Sim. A compaixão é a consciência de uma forte ligação entre você e todas as criaturas. Mas existem dois
lados da compaixão, dois lados dessa ligação. De um lado, como ainda estamos aqui como um corpo físico,
partilhamos a vulnerabilidade e a mortalidade da nossa forma física com todos os outros seres humanos e todos
os seres vivos. Na próxima vez que disser “Não tenho nada em comum com essa pessoa”, lembre-se de que
você tem muitas coisas em comum. Daqui a alguns anos – dois ou setenta, não faz muita diferença –, os dois
terão corpos apodrecidos, depois serão pó, depois nada restará. Isso é uma percepção humilde e sensata que não
deixa muito espaço para o orgulho. Isso é um pensamento negativo? Não, apenas um fato. Por que fechar os
olhos para isso? Nesse sentido há uma completa igualdade entre você e todas as outras criaturas.
Uma das mais poderosas práticas espirituais é meditar profundamente sobre a mortalidade das formas
físicas, inclusive da sua. Isso se chama: morrer antes que você morra. Vá fundo nisso. A sua forma física está se
dissolvendo, é nada. Então surge um momento quando todas as formas mentais ou pensamentos também
morrem. Mas você ainda está lá – a presença divina que você é, radiante, completamente consciente. Nada que é
real morre de verdade, somente os nomes, as formas e as ilusões.
A realização dessa dimensão eterna, a nossa verdadeira natureza, é o outro lado da compaixão. Em um
nível mais profundo, podemos reconhecer agora não só a nossa própria imortalidade, mas também a de todas as
outras criaturas. No nível da forma, partilhamos a mortalidade e a precariedade da existência. No nível do Ser,
partilhamos a vida eterna e radiante. Esses são dois aspectos da compaixão. Na compaixão, os sentimentos de
tristeza e de alegria, aparentemente opostos, se fundem em um só e se transformam em uma profunda paz
interior. Isso é a paz de Deus. É um dos mais nobres sentimentos de que os homens são capazes e possui um
grande poder de cura e transformação. Mas a verdadeira compaixão, como acabei de descrever, ainda é rara. Ter
uma profunda empatia pelo sofrimento de um outro ser exige um alto nível de consciência, mas representa
apenas um lado da compaixão. Não é completo. A verdadeira compaixão vai além da empatia ou da simpatia.
Não acontece até que a tristeza se misture com a alegria, a alegria do Ser além da forma, a alegria da vida
eterna.
Em direção a uma ordem de realidade diferente
Não concordo que o corpo precise morrer. Estou convencido de que podemos obter a imortalidade física.
Acreditamos na morte e é por isso que o corpo morre.
O corpo não morre porque acreditamos na morte. O corpo existe, ou assim parece, porque acreditamos na
morte. O corpo e a morte são partes da mesma ilusão, criada pelo modo egóico de consciência, que não tem
percepção da Fonte da vida e vê a si mesmo como uma coisa separada e sob constante ameaça. Assim, ele cria a
ilusão de que somos um corpo, um veículo físico e sólido, que está sob uma constante ameaça.
A ilusão está em percebermos a nós mesmos como um corpo vulnerável, que nasce e pouco depois morre.
Corpo e morte: uma ilusão. Um não existe sem o outro. Queremos manter um lado da ilusão e nos livrarmos do
outro, mas isso é impossível.
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Entretanto, você não pode escapar do corpo, nem tem de fazer isso. O corpo é uma percepção
incrivelmente distorcida da nossa verdadeira natureza. Mas a nossa verdadeira natureza está disfarçada em
algum lugar dentro dessa ilusão, não do lado de fora, portanto o corpo ainda é o único ponto de acesso a ela.
Se você vê um anjo, mas o confunde com uma estátua de pedra, tudo o que você precisa fazer é adaptar a
sua visão e olhar mais de perto para a “estátua de pedra”, e não olhar para outro lado. Você então percebe que
aquilo nunca foi uma estátua de pedra.
Se a crença na morte cria o corpo, por que um animal tem corpo? Um animal não tem um ego e não
acredita na morte...
Mas ele morre, ou parece que morre.
Lembre-se de que a nossa percepção do mundo é um reflexo do nosso estado de consciência. Não
estamos separados dele e não há um mundo objetivo fora dele. A cada momento, a nossa consciência cria o
mundo em que habitamos. Um dos maiores insights que a física moderna teve foi o da unidade entre o
observador e o observado: a pessoa que conduz a experiência – a consciência observadora – não pode ser
separada dos fenômenos observados, e uma nova maneira de olhar leva os fenômenos observados a se
comportarem de maneira diferente. Se você acredita na separação e na luta pela sobrevivência, vê essa crença
refletida à sua volta e as suas percepções acabam sendo governadas pelo medo. Você vive num mundo de morte,
lutas, uns atacando e matando os outros.
Nada é o que parece ser. O mundo que você criou e vê através da mente pode parecer um lugar bem
imperfeito, até mesmo um vale de lágrimas. Mas o que quer que você perceba é somente uma espécie de
símbolo, como uma imagem em um sonho. É o jeito pelo qual a sua consciência interpreta e interage com a
dança de energia molecular do universo. Essa energia é o material bruto da assim chamada realidade física.
Você a vê em termos de corpos e de nascimento e morte, ou como uma luta pela sobrevivência. Existe um
número infinito de interpretações diferentes, de mundos completamente diferentes, tudo dependendo do que a
consciência percebe. Cada ser é um ponto focal da consciência e cada ponto focal cria o seu próprio mundo,
embora todos esses mundos se interliguem. Existe um mundo humano, um mundo das formigas, um mundo dos
golfinhos, etc. Existem incontáveis seres cuja freqüência de consciência é tão diferente da nossa que
provavelmente não temos consciência da existência deles, assim como eles não têm da nossa. Seres altamente
conscientes da ligação que mantêm com a Fonte habitam um mundo que para nós pareceria com um domínio
celeste. Mas ainda assim todos os mundos são basicamente um só.
No momento em que a consciência humana coletiva tiver se transformado, a natureza e o reino animal
irão refletir essa transformação. Aqui está a afirmação da Bíblia de que no futuro “o leão vai se deitar ao lado da
ovelha”. Isso aponta para a possibilidade de um ordenamento da realidade completamente diferente.
O mundo tal qual se apresenta para nós é em grande parte um reflexo da mente. Sendo o medo uma
conseqüência inevitável da ilusão criada pelo ego, é um mundo dominado pelo medo. Assim como as imagens
em um sonho são símbolos dos estados interiores e dos sentimentos, assim a nossa realidade coletiva é uma
expressão simbólica do medo e das pesadas camadas de negatividade até agora acumuladas na psique coletiva
humana. Não estamos separados do nosso mundo, então, quando a maioria dos humanos se tornar livre da ilusão
egóica, essa mudança interior vai afetar toda a criação. Vamos, literalmente, viver em um novo mundo. É uma
mudança na consciência do planeta. O estranho ensinamento budista que toda árvore e toda folha de grama irão
finalmente se tornar iluminadas aponta para a mesma verdade. De acordo com São Paulo, toda a criação está à
espera de que os homens obtenham a iluminação. É assim que interpreto suas palavras: “A criação aguarda, com
impaciência, a revelação dos filhos de Deus”. São Paulo diz que todo o universo vai se redimir através disso, ao
escrever: “Sabemos, com efeito, que a criação inteira geme, ainda agora, com as dores do parto”.
O que está nascendo é uma nova consciência e, como um reflexo inevitável, um novo mundo. Isso
também está relatado no Livro das Revelações do Novo Testamento: “Vi, então, um novo Céu e uma nova
Terra, porque o primeiro Céu e a primeira Terra desapareceram...”
Mas não confunda causa e efeito. Nossa primeira tarefa não é buscar a salvação através da criação de um
mundo melhor, mas sim despertar da nossa identificação com a forma. Não estamos mais presos a este mundo, a
este nível de realidade. Podemos sentir nossas raízes no Não Manifesto e assim estamos livres do apego ao
mundo manifesto. Ainda podemos desfrutar os prazeres passageiros deste mundo, mas não somos mais escravos
dessas experiências, não estamos mais em busca de satisfação através de uma gratificação psicológica, através
da alimentação do ego. Não temos mais medo de perder alguma coisa, portanto não precisamos nos apegar a
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este mundo. Estamos em contato com algo infinitamente maior do que qualquer prazer, maior do que qualquer
coisa manifesta. Em um certo sentido, não precisamos mais do mundo e nem mesmo que ele seja diferente do
que é.
É neste ponto que você começa a dar uma contribuição real para criar um mundo melhor, uma nova
realidade. É neste ponto que você se torna capaz de sentir a verdadeira compaixão e de ajudar os outros.
Somente aqueles que transcenderam o mundo conseguem criar um mundo melhor.
Você deve lembrar que já falamos sobre a dualidade da verdadeira compaixão, que é a percepção de uma
ligação tanto com a mortalidade quanto com a imortalidade. Nesse nível profundo, a compaixão se torna um
remédio no sentido mais amplo. Nesse estado, a sua influência curativa se baseia não no fazer, mas no ser.
Todas as pessoas com quem você mantiver contato serão tocadas pela sua presença e afetadas pela paz que você
emana, quer elas estejam ou não conscientes disso. Quando estiver inteiramente presente e as pessoas à sua
volta tiverem um comportamento inconsciente, você não vai sentir necessidade de reagir. A sua paz será tão
grande e profunda que tudo que não for paz desaparecerá nela, como se nunca tivesse existido. Isso quebra o
ciclo cármico de ação e reação. Os animais, as árvores, as flores vão sentir a sua paz e reagir a ela. Você
ensinará através do ser, através da demonstração da paz de Deus. Você passará a ser a “luz do mundo”, uma
emanação da pura consciência, e assim eliminará a causa do sofrimento. Você eliminará a inconsciência do
mundo.
Isso não significa que você não possa também ensinar através da ação – por exemplo, ao apontar como se
desidentificar da mente, reconhecer padrões inconscientes no interior de alguém, etc. Mas quem você é será
sempre um ensinamento transformador do mundo mais vital e mais poderoso do que o que você disser, e até
mais essencial do que o que você fizer. Além disso, reconhecer a primazia do Ser – e assim trabalhar no nível da
causa – não exclui a possibilidade de que a sua compaixão possa simultaneamente se manifestar no nível da
ação e do efeito, ao aliviar o sofrimento sempre que você o encontrar. Quando alguém faminto lhe pedir pão e
você tiver, você vai dar. Mas, ao dar o pão, mesmo que o seu contato seja muito breve, o mais importante será
esse momento do Ser partilhado, do qual o pão é apenas um símbolo. Uma cura profunda se instala
internamente. Nesse momento, não há doador nem receptor.
Como podemos criar um mundo melhor sem acabar primeiro com grandes males, como a fome e a
violência?
Todos os males são efeito da inconsciência. Podemos aliviar os efeitos da inconsciência, mas não
podemos eliminá-los, a menos que eliminemos sua causa. A verdadeira transformação acontece no interior, não
no exterior.
Querer aliviar o sofrimento do mundo é uma coisa muito nobre, mas lembre-se de não se concentrar
exclusivamente no exterior, do contrário você vai sentir frustração e desespero. Sem uma profunda mudança na
consciência humana, o sofrimento é um buraco sem fundo. Portanto, não permita que a sua compaixão se torne
unilateral. A empatia com o sofrimento do outro e o desejo de ajudar devem ser equilibrados com uma profunda
percepção da natureza eterna de todas as coisas e com a consciência do aspecto ilusório de todos os sofrimentos.
Permita que a sua paz inunde tudo o que você fizer e estará atuando sobre o efeito e a causa ao mesmo tempo.
Se quiser impedir que os seres humanos destruam uns aos outros e acabem com o planeta, lembre-se de
que, assim como não consegue combater a escuridão, você também não pode combater a inconsciência. Se
tentar fazer isso, a oposição polar vai se tornar fortalecida e mais profundamente arraigada. Você vai se
identificar com uma das polaridades, vai criar um “inimigo” e será conduzido ao seu eu interior inconsciente.
Eleve a consciência ao disseminar a informação, ou melhor, pratique a resistência passiva. Mas tenha a certeza
de que você não carrega nenhuma resistência interior, nenhum ódio, nenhuma negatividade. “Ame os seus
inimigos”, disse Jesus. O que, obviamente, significa: não tenha inimigos.
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Uma vez que você se envolva em atuar no nível do efeito, é muito fácil se perder dentro dele. Fique alerta
e muito, muito presente. A causa tem de permanecer o seu foco inicial; o ensinamento da iluminação, o seu
propósito principal, e a paz, o seu mais precioso presente para o mundo.