terça-feira, 25 de agosto de 2009

capitulo 4

ESTRATÉGIAS DA MENTE PARA EVITAR O AGORA
A perda do agora: a ilusão central
Mesmo que eu aceite que o tempo é uma ilusão, que diferença isso fará na minha vida? Tenho que
continuar a viver em um mundo absolutamente dominado pelo tempo.
O entendimento intelectual é apenas mais uma crença e não vai fazer muita diferença para a nossa vida.
Para perceber essa verdade temos que vivenciá-la. Quando cada célula do nosso corpo está tão presente que
vibra com a vida, e quando conseguimos sentir essa vida a cada momento como a alegria do Ser, podemos dizer
que estamos livres do tempo.
Mas ainda tenho de pagar as contas e sei que vou envelhecer e morrer, exatamente como todas as
pessoas. Como posso dizer que estou livre do tempo?
As contas de amanhã não são um problema. A degeneração do corpo não é um problema. A perda do
Agora é o problema, ou melhor, a ilusão central que transforma uma situação simples, um acontecimento ou
uma emoção em um problema pessoal e em sofrimento. Perder o Agora é perder o Ser.
Livrar-se do tempo é livrar-se da necessidade psicológica tanto do passado quanto do futuro. Isso
representa a mais profunda transformação de consciência que você possa imaginar. Em casos muito raros, essa
mudança na consciência acontece de forma drástica e radical, de uma vez por todas. Quando isso acontece,
normalmente é através de uma completa rendição, em meio a um sofrimento intenso. Muitas pessoas, entretanto,
têm de trabalhar para obtê-la.
Depois dos primeiros vislumbres do estado atemporal de consciência, passamos a viver em um vaivém
entre a dimensão do tempo e a presença. Primeiro, você começa a perceber que a sua atenção raramente está no
Agora. Entretanto, saber que você não está presente já é um grande sucesso. O simples saber já é presença –
mesmo que, no início, dure só alguns segundos no tempo do relógio antes de desaparecer outra vez. Depois,
com uma freqüência cada vez maior, você escolhe dirigir o foco da consciência para o momento presente. Você
se torna capaz de ficar presente por períodos mais longos. Portanto, antes que sejamos capazes de nos
estabelecer com firmeza no estado de presença, oscilamos, periodicamente, de um lado para o outro, entre a
consciência e a inconsciência, entre o estado de presença e o estado de identificação com a mente. Perdemos o
Agora várias vezes, mas retornamos a ele. Por fim, a presença se torna o estado predominante.
A maioria das pessoas nunca vivencia a presença. Ela acontece apenas de modo breve e acidental, em
raras ocasiões, sem ser reconhecida pelo que é. Muitos seres humanos não se alternam entre a consciência e a
inconsciência, mas somente entre diferentes níveis de inconsciência.
A inconsciência comum e a inconsciência profunda
O que você quer dizer com diferentes níveis de inconsciência?
Como você provavelmente sabe, o ser humano se desloca constantemente entre fases do sono em que
sonha e que não sonha. Da mesma forma, a maioria das pessoas, quando acordada, se alterna entre a
inconsciência comum e a inconsciência profunda. Chamo de inconsciência comum essa identificação com os
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nossos processos de pensamentos e emoções, nossas reações, desejos e aversões. É o estado normal da maioria
das pessoas. Nesse estado, somos governados pela mente e não temos consciência do Ser. Não se trata de um
estado de sofrimento agudo ou de infelicidade, mas de um nível baixo e contínuo de desconforto,
descontentamento, enfado ou nervosismo, como uma espécie de estática ao fundo. Talvez você não perceba
muito bem essa situação porque ela já faz parte da nossa vida “normal”, da mesma forma que você não percebe
um barulho contínuo ao fundo, como o zumbido do ar-condicionado, até ele parar. Quando isso acontece de
repente, ocorre uma sensação de alívio. Muitas pessoas usam a bebida, as drogas, o sexo, a comida, o trabalho, a
televisão, ou até mesmo o ato de fazer compras como anestésicos, em uma tentativa inconsciente para acabar
com esse desconforto básico. Quando isso acontece, uma atividade que poderia ser muito agradável, se feita
com moderação, passa a ter um componente de compulsão ou dependência, e tudo o que se obtém sob essa
influência traz uma sensação de alívio por um período extremamente curto.
A sensação de desconforto da inconsciência comum se transforma no sofrimento da inconsciência
profunda, ou seja, um estado de sofrimento ou infelicidade mais agudo e mais perceptível quando as coisas “vão
mal”, quando o ego é ameaçado ou quando existe um desafio maior, tal como uma perda real ou imaginária em
nossa situação de vida, ou um conflito numa relação. A inconsciência profunda é uma versão ampliada da
inconsciência comum, da qual difere na intensidade, mas não na espécie.
Na inconsciência comum, uma resistência habitual ou uma negação daquilo que é cria um desconforto
que a maioria das pessoas aceita como algo normal. Quando essa resistência se intensifica através de algum
desafio ou ameaça ao ego, faz aflorar uma negatividade intensa que se manifesta sob a forma de raiva, medo
profundo, agressão, depressão, etc. A inconsciência profunda significa, com freqüência, que o sofrimento
começou e que você passou a se identificar com ele. A violência física não aconteceria sem o estado de
inconsciência profunda. Ela pode explodir com facilidade quando as pessoas geram um campo coletivo de
energia negativa.
O melhor indicador do nível de consciência é a maneira como você lida com os desafios da vida. É
através desses desafios que uma pessoa já inconsciente tende a se tornar mais profundamente inconsciente, e
uma pessoa consciente a se tornar mais intensamente consciente. Podemos nos valer de um desafio para nos
acordar ou para permitir que ele nos empurre para um sono ainda mais profundo. O sonho no nível da
inconsciência comum se transforma, então, em pesadelo.
Se você não consegue estar presente mesmo em situações normais, como, por exemplo, quando está
sozinho em uma sala, caminhando no campo ou ouvindo alguém, certamente não será capaz de permanecer
consciente quando alguma coisa “vai mal”. Será dominado por uma reação, que é sempre, em última análise,
alguma forma de medo, e empurrado para uma inconsciência profunda. Esses desafios são os seus testes. Só o
modo como você lida com eles lhe mostrará onde você está no que se refere ao seu estado de consciência, e não
a quantidade de horas que você consegue ficar sentado com os olhos fechados.
Portanto, é fundamental colocar mais consciência em sua vida durante as situações comuns, quando tudo
está correndo de modo relativamente tranqüilo. É assim que se aumenta o poder de presença. Ele gera um
campo energético de alta freqüência vibracional em você e ao seu redor. Nenhuma inconsciência, nenhuma
negatividade, nenhuma discórdia ou violência pode penetrar nesse campo e sobreviver, do mesmo modo que a
escuridão não consegue sobreviver na presença da luz.
O que eles estão buscando?
Carl Jung relata, em um de seus livros, uma conversa mantida com um chefe indígena norte-americano
para quem a maioria das pessoas brancas tinha rostos tensos, olhos espantados e um ar cruel. O chefe disse:
“Estão sempre buscando alguma coisa. O que eles estão procurando? Os brancos sempre querem alguma coisa.
Estão sempre agitados e descontentes. Não sabemos o que desejam. Achamos que são loucos”.
Não há dúvidas de que a tendência a uma permanente sensação de desconforto começou muito antes do
surgimento da civilização industrial ocidental, mas foi na civilização ocidental, que hoje cobre quase todo o
planeta, inclusive grande parte do Leste, que ela se manifestou de uma forma aguda sem precedentes. Ela já
estava presente no tempo de Jesus e também seiscentos anos antes, no tempo de Buda, e muito antes desse
tempo. “Por que vocês estão sempre ansiosos?”, Jesus perguntou aos discípulos. “Será que os seus pensamentos
ansiosos podem acrescentar um simples dia às vossas vidas?” Da mesma forma, Buda ensinou que a raiz do
sofrimento pode ser encontrada em nossos desejos e ansiedades permanentes.
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A resistência ao Agora como uma disfunção básica coletiva está intimamente ligada à perda da
consciência do Ser e forma a base da nossa civilização industrial desumanizada. Freud também reconheceu a
existência dessa tendência para o desconforto e escreveu sobre o assunto em seu livro O Mal-Estar na
Civilização, mas não admitiu a verdadeira raiz da inquietação e falhou em perceber que é possível libertar-se
dela. Essa disfunção coletiva criou uma civilização muito infeliz e extraordinariamente violenta, que se tornou
uma ameaça não só para si mesma, mas para toda a vida do planeta.
Dissolvendo a inconsciência comum
Como podemos nos livrar desse desconforto?
Torne-o consciente. Observe as muitas maneiras pelas quais o desconforto, o descontentamento e a tensão
surgem dentro de você, através de julgamentos desnecessários, resistência àquilo que é e negação do Agora.
Qualquer coisa inconsciente se dissolve quando a luz da consciência brilha sobre ela. Se soubermos como
dissolver a inconsciência comum, a luz da nossa presença irá brilhar intensamente e será muito mais fácil
lidarmos com a inconsciência profunda. Mas, no início, talvez não seja muito fácil detectar a inconsciência
comum porque a consideramos uma coisa normal.
Habitue-se a monitorar o seu estado mental e emocional através de uma auto-observação. “Estou me
sentindo à vontade nesse momento?” é uma pergunta que você deve se fazer com freqüência. Ou pode se
questionar: “O que está acontecendo dentro de mim neste exato momento?” Mantenha o mesmo nível de
interesse pelo que vai tanto no seu interior quanto no exterior. Se você captar corretamente o interior, o exterior
se encaixará no lugar. A realidade principal está no interior, a realidade externa é secundária. Mas não responda
logo a essas questões. Direcione a sua atenção para o interior. Olhe para dentro de você. Que tipo de
pensamentos a sua mente está produzindo? O que você sente? Dirija a atenção para o seu corpo. Existe alguma
tensão? Quando você perceber um certo desconforto, um ruído estático ao fundo, verifique que caminhos você
está usando para evitar, resistir ou negar a vida, o Agora. Existem muitos caminhos pelos quais resistimos,
inconscientemente, ao momento presente. Vou dar alguns exemplos. Com a prática, o seu poder de autoobservação,
de monitorar o seu estado interior, se tornará mais aguçado.
Libertando-se da infelicidade
Você não está satisfeito com as atividades que desempenha? Talvez não goste de seu trabalho ou tenha se
aborrecido por ter concordado em fazer alguma coisa, embora parte de você não goste e ofereça resistência.
Tem algum ressentimento oculto em relação a alguém próximo a você? Percebe que a energia que você
desprende por conta disso tem efeitos tão prejudiciais que você está contaminando a si mesmo e aos que estão
ao seu redor? Dê uma boa olhada dentro de você. Existe algum leve traço de ressentimento ou má vontade? Se
existe, observe-o, tanto no nível mental quanto no emocional. Que tipos de pensamento a sua mente está criando
em torno dessa situação? Depois, observe a sua emoção, que é a reação do corpo a esses pensamentos. Sinta a
emoção. Ela lhe parece agradável ou não? É uma energia que você escolheria para ter dentro de você? Você tem
escolha?
Talvez a atividade seja tediosa, ou alguém próximo a você seja desonesto, irritante ou inconsciente, mas
tudo isso é irrelevante. Não faz a menor diferença se os seus pensamentos e emoções a respeito da situação
tenham ou não uma justificativa. O fato é que você está resistindo ao que é. Está transformando o momento
atual num inimigo. Está criando infelicidade, um conflito entre o interior e o exterior. A sua infelicidade está
poluindo não só o seu próprio ser interior e daqueles à sua volta, como também a psique coletiva humana, da
qual você é uma parte inseparável. A poluição do planeta é apenas um reflexo externo de uma poluição interior
psíquica gerada por milhões de indivíduos inconscientes, sem a menor responsabilidade pelos espaços que
trazem dentro de si.
Você pode parar de executar a tarefa que está lhe causando insatisfação, falar com a pessoa envolvida e
expressar todos os seus sentimentos, ou livrar-se da negatividade que a sua mente criou em volta da situação e
que não serve a nenhum propósito, exceto o de fortalecer um falso sentido do eu interior. É importante
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reconhecer essa inutilidade. A negatividade nunca é o melhor caminho para lidar com qualquer situação. Na
verdade, na maior parte dos casos, ela nos paralisa, bloqueando qualquer mudança verdadeira. Qualquer coisa
feita com uma energia negativa será contaminada por ela e dará origem a mais sofrimento. Além disso, qualquer
estado interior negativo é contagioso, pois a infelicidade se espalha mais rapidamente do que uma doença física.
Pela lei da ressonância, ela detona e alimenta a negatividade latente nos outros, a menos que sejam imunes, quer
dizer, altamente conscientes.
Você está poluindo o mundo ou limpando a sujeira? Você é responsável pelo seu espaço interior, da
mesma forma que é responsável pelo planeta. Assim no interior, assim no exterior: se os seres humanos
limparem a poluição interior, deixarão então de criar a poluição externa.
Como podemos nos livrar da negatividade?
Descartando-a. Como nos livramos de um pedaço de carvão em brasa que está em nossas mãos? Como
nos livramos de uma bagagem pesada e inútil que estamos carregando? Reconhecendo que não desejamos mais
sofrer nem carregar peso, e deixando-os de lado.
A inconsciência profunda, como o sofrimento físico ou outro sofrimento profundo, como, por exemplo, a
perda de uma pessoa amada, quase sempre necessita ser transformada através da aceitação combinada com a luz
da presença, ou seja, através de uma atenção constante. Por outro lado, muitos padrões da inconsciência comum
podem ser simplesmente descartados ao percebermos que não os queremos mais ou que não precisamos mais
deles, que temos uma escolha e que não somos só um feixe de reflexos condicionados. Tudo isso indica que
somos capazes de acessar o poder do Agora. Sem ele, não temos escolha.
Ao chamar algumas emoções de negativas, será que você não está criando uma polaridade mental de
bom e mau, como mencionou anteriormente?
Não. A polaridade foi criada num estágio anterior, quando sua mente julgou o momento presente como
mau. Foi esse julgamento que criou a emoção negativa.
Mas ao chamar algumas emoções de negativas, você não está querendo dizer que elas não deveriam
estar ali, que não está certo ter essas emoções? Entendo que deveríamos nos permitir ter qualquer tipo de
sentimento, sem julgar se ele é bom ou mau. Não há nada demais em estar com raiva, de mau humor, ou seja lá
o que for, do contrário, nos sentiremos reprimidos, em conflito interior ou rejeitados. As coisas estão bem do
jeito que são.
Sem dúvida. Quando um padrão mental, uma emoção ou uma reação forem observados, aceite-os. Você
não está consciente o bastante para ter uma escolha em relação a esse assunto. Não se trata de um julgamento,
apenas de um fato. Se você tivesse uma escolha, ou percebesse que, de fato, tem uma escolha, escolheria o
sofrimento ou a alegria, o conforto ou o desconforto, a paz ou o conflito? Escolheria um pensamento ou um
sentimento que separasse você do seu estado natural de bem-estar, da alegria da vida interior? Chamo de
negativo a qualquer sentimento dessa natureza, o que significa simplesmente mau. Não no sentido de “você não
deveria ter feito isso”, mas simplesmente o mau no sentido concreto, como sentir dor de estômago. Como é
possível que os seres humanos tenham assassinado mais de 100 milhões de seus semelhantes apenas no século
vinte?1 Pessoas infligindo um sofrimento de tal magnitude umas às outras está além de qualquer coisa que você
possa imaginar. E isso sem considerar a violência física, mental e emocional, a tortura, o sofrimento e a
crueldade que os homens continuam a infligir uns aos outros, bem como a outros seres vivos.
Será que agem assim em seu estado natural, em contato com a alegria da vida dentro deles? Claro que
não. Somente aqueles que vivem num estado profundamente negativo, que se sentem de fato muito mal,
poderiam ver tal realidade como um reflexo do modo como se sentem. No momento, essas pessoas estão
empenhadas em destruir a natureza e o planeta que nos sustenta. Isso é inacreditável, mas é verdadeiro. O
1 Sivard, R. L. World Military ans Social Expenditures. 1996. 16ª edição. Washington, D. C.: World Priorities,
1996. p. 7.
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homem é uma espécie perigosamente insana e doente. Isso não é um julgamento, é um fato. É também um fato
que a sanidade está lá, por baixo da loucura. A cura e a redenção estão disponíveis neste exato momento.
É verdade que, quando aceita seu ressentimento, o mau humor, a raiva, etc., você não sente mais
necessidade de manifestá-los de maneira cega e tem menos chance de projetá-los sobre os outros. Mas eu me
pergunto se você não está se iludindo. Quando uma pessoa vem praticando a aceitação por um tempo, como é o
seu caso, chega um ponto em que precisa passar para o estágio seguinte, onde essas emoções negativas não são
mais criadas. Se você não passa, a “aceitação” se torna apenas um rótulo mental que permite ao seu ego
continuar a ser tolerante com a tristeza e, dessa forma, fortalecer o sentimento de separação das outras pessoas,
do seu ambiente, do seu aqui e agora. Como você bem sabe, a separação é a base do sentido de identidade do
ego. A aceitação verdadeira poderia transformar tudo de uma vez por todas. E se sabe, bem lá no fundo, que
tudo “está bem” como você diz, será que esses pensamentos negativos viriam em primeiro lugar? Se não houver
julgamento nem resistência ao que é, eles nem surgiriam. A sua mente diz que “tudo está bem”, mas no fundo
você não acredita nisso, e assim os velhos padrões de resistência mental e emocional ainda estão ali. É isso o
que nos faz mal.
Isso também não tem importância.
Você está defendendo o seu direito de ser inconsciente, o seu desejo de sofrer? Não se preocupe, pois
ninguém vai lhe tirar esse direito. Ao perceber que um determinado tipo de alimento lhe faz mal, você
continuaria a comer aquele alimento e insistiria em afirmar que não se importa em passar mal?
Onde quer que você esteja, esteja por inteiro
Você pode dar outros exemplos da inconsciência comum?
Observe quando estiver reclamando, com palavras ou pensamentos, de uma situação que envolva você –
pode ser alguém que fez ou disse algo que lhe aborreceu, algo sobre a sua situação de vida, o lugar onde mora,
ou até mesmo o tempo. Reclamar é sempre uma não aceitação de algo que é. Essa atitude contém
invariavelmente uma carga negativa inconsciente. Quando você reclama, transforma-se em vítima. Quando fala,
você está no controle. Portanto, mude a situação agindo ou falando, caso necessário ou possível, ou então fuja
da situação ou mesmo aceite-a. Tudo o mais é loucura.
A inconsciência comum é sempre relacionada, de algum modo, com a negação do Agora. O Agora,
naturalmente, também implica o aqui. Você está resistindo ao aqui e agora? Algumas pessoas prefeririam estar
num outro lugar. O “aqui” delas nunca é suficientemente bom. Observe-se e verifique se isso acontece em sua
vida. Onde quer que você esteja, esteja lá por inteiro. Se você acha insuportável o seu aqui e agora e isso lhe faz
infeliz, há três opções: abandone a situação, mude-a ou aceite-a totalmente. Se você deseja ter responsabilidade
sobre a sua vida, deve escolher uma dessas opções e deve fazê-lo agora. Depois, arque com as conseqüências.
Sem desculpas. Sem negatividade. Sem poluição física. Mantenha limpo o seu espaço interior.
Se você tomar qualquer atitude, abandonando ou mudando a situação, livre-se primeiro da negatividade.
Uma atitude originada no discernimento tem mais efeito do que uma originada na negatividade.
Uma atitude qualquer é muitas vezes melhor do que nenhuma atitude, especialmente se há muito tempo
você está paralisado numa situação infeliz. Se for uma atitude errada, ao menos você aprenderá alguma coisa,
caso em que deixará de ser um erro. Se você não agir, nada aprenderá. Será que o medo está evitando que você
tome uma atitude? Admita o medo, observe-o, concentre-se nele, esteja totalmente presente. Isso corta a ligação
entre o medo e o pensamento. Não deixe o medo nascer em sua mente. Use o poder do Agora. O medo não pode
prevalecer sobre ele.
Se não há mesmo nada a fazer e você não pode mudar a situação, então aceite o aqui e agora totalmente,
abandonando toda a resistência interior. O falso e infeliz eu interior, que adora sentir-se miserável, ressentido ou
com pena de si mesmo, não consegue mais sobreviver. Isso se chama rendição. A rendição não é uma fraqueza.
Há uma grande força nela. Somente alguém que se rendeu tem poder espiritual. Através da rendição, você se
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livrará da situação internamente. É possível que você perceba uma mudança na situação sem que tenham sido
necessários maiores esforços da sua parte. De qualquer forma, você está livre.
Ou haverá algo que você “deveria” estar fazendo mas não está? Levante-se e faça agora. Ou, em vez
disso, aceite totalmente a sua inatividade, preguiça ou passividade neste momento, se esta é a sua escolha.
Mergulhe nela por inteiro. Desfrute-a. Seja tão preguiçoso ou inativo quanto puder. Se você fizer isso
conscientemente, logo sairá dela. Ou talvez não. Em qualquer dos casos, não há nenhum conflito interior,
nenhuma resistência, nenhuma negatividade.
Você está sofrendo de estresse? Pensa tanto no futuro que o presente está reduzido a um meio para chegar
lá? O estresse é causado pelo estar “aqui” embora se deseje estar “lá”, ou por se estar no presente desejando
estar no futuro. É uma divisão que corta a pessoa por dentro. Criar e viver com essa divisão é insano. O fato de
que todas as pessoas estão agindo assim não torna ninguém menos insano. Se você não pode fugir disso, tem de
se movimentar rápido, trabalhar rápido, ou até mesmo correr, sem se projetar no futuro e sem resistir ao
presente. Quando se movimentar, trabalhar e correr, faça tudo por inteiro. Desfrute o fluxo de energia, a alta
energia desse momento. Agora não há mais estresse, não há mais divisão por dois, apenas o movimento, a
corrida, o trabalho. Desfrute essas atitudes. Ou você também pode abandonar tudo e se sentar num banco do
parque. Mas, ao fazê-lo, observe a sua mente. Pode ser que ela diga: “Você devia estar trabalhando. Está
perdendo o seu tempo”. Observe a mente. Sorria para ela.
O passado toma uma grande parte da sua atenção? Você freqüentemente fala e pensa sobre ele, tanto de
forma positiva quanto negativa? As grandes coisas que você conquistou, suas experiências e aventuras, ou as
coisas horrorosas que lhe aconteceram, ou talvez que você fez a alguém? Será que seus pensamentos estão
gerando culpa, orgulho, ressentimento, raiva, arrependimento ou autopiedade? Então, você está não só dando
mais força ao falso eu interior, como também ajudando a acelerar o processo de envelhecimento do seu corpo
através da criação de um acúmulo de passado na sua psique. Constate isso observando à sua volta aquelas
pessoas que têm uma forte tendência para se apegar ao passado.
Morra para o passado a cada instante. Você não precisa dele. Refira-se a ele apenas quando totalmente
relevante para o presente. Sinta o poder do momento presente e a plenitude do Ser. Sinta a sua presença.
Você tem preocupações? Tem muitos pensamentos do tipo “e se”? Você está identificado com a mente,
que está se projetando num futuro imaginário e criando o medo. Não há como enfrentar tal tipo de situação,
porque ela não existe. É um fantasma mental. Você pode parar com essa insanidade que corrói a saúde e a vida
aceitando simplesmente o momento presente. Perceba a sua respiração. Sinta o ar entrando e saindo do seu
corpo. Sinta o seu campo interno de energia. Tudo com o que você sempre teve que lidar, tudo que teve de
enfrentar na vida real, em oposição às projeções imaginárias da mente, é o momento presente. Pergunte-se qual
é o seu problema neste exato momento, não no ano que vem, ou amanhã ou daqui a cinco minutos. O que está
errado neste exato momento? Você pode sempre enfrentar o Agora, mas não pode jamais enfrentar o futuro,
nem tem de fazer isso. A resposta, a força, a atitude certa estarão à sua disposição quando você precisar, nem
antes, nem depois.
“Algum dia vou fazer isso”. Seu objetivo está tomando de tal modo a sua atenção que o momento
presente é apenas um meio para atingir um fim? Está consumindo a alegria das coisas que você faz? Você está
esperando para começar a viver? Se você desenvolver esse tipo de padrão mental, não importa o que você
adquira ou alcance, o presente nunca será bom o bastante. O futuro sempre parecerá melhor. Uma receita
perfeita para uma insatisfação permanente, você não acha?
Você está sempre “esperando” alguma coisa? Quanto tempo da sua vida você passou esperando? Chamo
“espera de pequena escala” à espera na fila do correio, num engarrafamento de automóveis, no aeroporto, por
alguém que vai chegar, um trabalho que precisa ser terminado, etc. Chamo de “espera em grande escala” à
espera pelas próximas férias, por um emprego melhor, pelos filhos crescerem, por uma relação verdadeiramente
significativa, pelo sucesso, para ficar rico, para ser importante, para se tornar iluminado. Não é raro que as
pessoas passem a vida toda esperando para começar a viver.
Esperar é um estado mental. Significa basicamente desejar o futuro e não querer o presente. Você não
quer o que conseguiu e deseja aquilo que não conseguiu. Em qualquer dos tipos de espera você,
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inconscientemente, cria um conflito interior entre o seu aqui e agora, onde você não quer estar, e o futuro
projetado, onde você quer estar. Essa situação reduz grandemente a qualidade da sua vida ao fazer você perder o
presente.
Não há nada de errado em nos empenharmos para melhorar a nossa situação de vida. Podemos melhorar a
situação da nossa vida, mas não podemos melhorar a nossa vida. A vida é básica.
A vida é o Ser interior mais profundo. É um todo, completo, perfeito. A nossa situação de vida se
constitui das nossas circunstâncias e experiências. Não há nada de errado em estabelecermos metas e nos
empenharmos para conseguir bens. O erro reside em usar isso como um substituto para o sentimento da vida,
para o Ser. O único ponto de acesso a isso é o Agora. Agimos, assim, como um arquiteto que não dá atenção às
fundações de uma construção, mas que gasta um bom tempo trabalhando na superestrutura.
Por exemplo. Muitos de nós estamos à espera da prosperidade. Ela pode não acontecer no futuro. Quando
respeitamos, admitimos e aceitamos completamente a realidade do presente – onde estamos, quem somos, o que
estamos fazendo agora –, quando aceitamos o que temos, significa que estamos agradecidos pelo que
conseguimos, pelo que é, pelo Ser. A gratidão pelo momento presente e pela plenitude da vida atual é a
verdadeira prosperidade. Não está no futuro. Então, no tempo certo, essa prosperidade se manifesta para nós de
várias maneiras.
Se você não encontra satisfação nas coisas que possui, se tem um sentimento de frustração ou de
aborrecimento por não ter tudo o que quer no presente, isso pode levá-lo a querer enriquecer, mas, mesmo que
consiga milhões, continuará a ter uma sensação de que falta alguma coisa. Talvez o dinheiro lhe compre muitas
experiências excitantes, embora passageiras, deixando sempre uma sensação de vazio e estimulando uma
necessidade de gratificação física ou psicológica ainda maior. Você não vai se conformar em simplesmente Ser
e, assim, sentir a plenitude da vida agora – a verdadeira prosperidade.
Portanto, desista da espera como um estado da mente. Quando você se vir escorregando para a espera...
pule fora. Venha para o momento presente. Apenas seja e aprecie ser. Quando estamos presentes, nunca
precisamos esperar por nada. Portanto, da próxima vez que alguém disser “desculpe por ter feito você esperar”,
sua resposta pode ser: “Está tudo bem, não estava esperando. Estava aqui contente comigo, com meu eu
interior”.
Essas são apenas algumas das estratégias comuns da mente para negar o momento presente já
incorporadas à inconsciência comum. São fáceis de passar despercebidas porque já estão entranhadas em nosso
modo de vida, como o ruído de fundo do nosso eterno descontentamento. Mas, quanto mais você praticar o
monitoramento do seu estado interior emocional e mental, mais fácil será perceber em que momento você foi
capturado pelo passado e pelo futuro, bem como despertar da ilusão do tempo dentro do presente. Mas tenha
cuidado porque o eu interior falso e infeliz, baseado na identificação com a mente, vive no tempo. Ele sabe que
o presente significa sua própria morte e sente-se ameaçado. Fará tudo para afastar você do Agora. Tentará
manter você preso ao tempo.
O propósito interno da nossa jornada de vida
Posso perceber a verdade do que você está dizendo, mas ainda acho que devíamos ter um propósito em
nossa jornada, do contrário, ficamos sem rumo. Propósito significa futuro, não significa? Como conciliar isso
com o viver no presente?
Ao partir numa jornada, é claro que ajuda muito sabermos para onde vamos ou, ao menos, a direção geral
que estamos tomando. Entretanto, não podemos esquecer de que a única coisa real sobre a nossa jornada é o
passo que estamos dando neste exato momento. Isso é tudo o que existe.
Nossa jornada de vida tem um propósito externo e um interno. O propósito externo é o de alcançarmos o
objetivo ou destino, realizarmos o que estabelecemos cumprir, adquirirmos uma coisa ou outra, o que, é claro,
envolve o futuro. Mas, se o destino ou os passos que vamos dar no futuro tomam tanto nossa atenção que se
tornam mais importantes do que o passo que estamos dando agora, significa que perdemos completamente o
propósito interno da vida, que não tem nada a ver com aonde estamos indo ou com o que estamos fazendo, mas
tudo a ver com o de que modo. Esse propósito interno não está relacionado com o futuro e sim com a qualidade
da nossa consciência no momento presente. O propósito externo pertence à dimensão horizontal de tempo e
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espaço enquanto o interno diz respeito ao aprofundamento do Ser na dimensão vertical do eterno Agora. Nossa
jornada externa pode conter um milhão de passos enquanto a jornada interna só tem um, que é o passo que
estamos dando neste exato momento. Quando tomamos maior consciência desse passo, percebemos que ele já
contém dentro de si todos os outros passos, assim como o nosso destino. Esse único passo se vê transformado
em uma expressão da perfeição, um ato de grande beleza e qualidade. Ele terá nos levado para dentro do Ser e a
luz do Ser brilhará através dele. Este é tanto o propósito quanto à realização da nossa jornada interior: a jornada
para dentro de nós mesmos.
Faz diferença se alcançamos nosso propósito externo, se somos bem-sucedidos ou se fracassamos?
Faz diferença se você não tiver alcançado seu propósito interno. Depois disso, o propósito externo é só
um jogo que você pode apreciar e querer continuar jogando. Pode acontecer também de você falhar em seu
propósito externo e, ao mesmo tempo, ter pleno sucesso em seu propósito interno. Ou de outra forma até mais
comum, pode obter riqueza externa e pobreza interna, ou “ganhar o mundo e perder a alma”, nas palavras de
Jesus. Claro que, no fim, cada propósito externo está condenado a “fracassar” mais cedo ou mais tarde,
simplesmente porque está sujeito à lei da não permanência de todas as coisas. Quanto mais cedo você perceber
que o propósito externo não pode lhe proporcionar uma satisfação duradoura, melhor. Depois de ter constatado
as limitações do seu propósito externo, você desiste da expectativa irreal de que ele deveria fazer a sua
felicidade e torna-o subserviente ao seu propósito interno.
O passado não consegue sobreviver diante da presença
Você disse que pensar ou falar sobre o passado é um dos caminhos pelos quais evitamos o presente.
Mas, além do passado do qual nos lembramos e com que talvez nos identifiquemos, não existe um outro nível
de passado dentro de nós mais enraizado? Falo sobre o passado inconsciente, que condiciona nossas vidas, em
especial as experiências dos primeiros anos da infância, até mesmo as experiências de vida passada. Existem
também os condicionamentos culturais, tão relacionados ao lugar e ao período histórico em que vivemos.
Todas essas coisas determinam o modo como vemos o mundo, o que pensamos, que tipo de relacionamentos
mantemos, como vivemos. Como poderíamos nos livrar disso tudo? Quanto tempo isso levaria? E se
conseguíssemos, o que restaria?
O que resta quando terminam as ilusões?
Não há necessidade de investigar o nosso passado inconsciente, exceto à medida que ele for se
manifestando no presente, na forma de um pensamento, de uma emoção, de um desejo, de uma reação ou de
algo externo que nos aconteça. Uma eventual curiosidade quanto ao passado inconsciente poderá ser satisfeita
através dos desafios do presente. Quanto mais penetramos no passado, mais ele se torna um buraco sem fundo.
Haverá sempre alguma coisa a mais. Você pode pensar que precisa de mais tempo para entender o passado ou se
livrar dele ou, em outras palavras, que o futuro irá finalmente livrá-lo do passado. Isso é ilusão. Só o presente
pode nos livrar do passado. Uma quantidade maior de tempo não consegue nos livrar do tempo. Acesse o poder
do Agora. Essa é a chave.
O que é o poder do Agora?
Nada mais do que o poder da sua presença, da sua consciência libertada das formas de pensamento.
Portanto, lide com o passado no nível do presente. Quanto mais atenção você der ao passado, mais
energia estará dando a ele e mais probabilidades terá de construir um eu interior baseado nele. Não confunda as
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coisas. A atenção é essencial, mas não em relação ao passado como passado. Dê atenção ao presente. Dê
atenção ao seu comportamento, às suas reações, seu humor, seus pensamentos, suas emoções, medos e desejos,
da forma como eles acontecem no presente. Ali está o seu passado. Se você consegue estar presente o bastante
para observar todas essas coisas, não de modo crítico ou analítico, mas sem julgamentos, significa que você está
lidando com o passado e dissolvendo-o através do poder da sua presença. Não é procurando no passado que
você vai se encontrar. Você vai se encontrar estando no presente.
O passado não pode ser útil para nos ajudar a compreender por que fazemos certas coisas, reagimos de
determinadas maneiras, ou por que, inconscientemente, criamos nossos dramas particulares?
Quando ficamos mais conscientes do presente, podemos ter um insight sobre o porquê de determinados
condicionamentos. Podemos perceber, por exemplo, se seguimos algum padrão nos nossos relacionamentos e
podemos ver mais claramente coisas que aconteceram no passado. Fazer isso é bom e pode ser útil, mas não é
essencial. O que é essencial é a nossa presença consciente. Ela dissolve o passado. Ela é o agente transformador.
Portanto, não procure entender o passado, mas esteja presente tanto quanto conseguir. O passado não consegue
sobreviver diante da sua presença, só na sua ausência.

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