quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Textos






É sempre preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foste despedido do trabalho? Terminaste uma relação? Deixaste a casa dos pais? Partiste para viver num outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Podes passar muito tempo a perguntares-te por que isso aconteceu...
Podes dizer a ti mesmo que não darás mais um passo enquanto não entenderes as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas na tua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: teus pais, teus amigos, teus filhos, teus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que estás parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem connosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já se foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tens.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está a acontecer no nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.

Ninguém joga nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não esperes que te devolvam algo, não esperes que reconheçam o teu esforço, que descubram o teu génio, que entendam o teu amor. Pára de ligar a tua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como sofreste com determinada perda: isso estará apenas envenenar-te, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceites, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diz a ti mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembra-te de que houve uma época em que podias viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na tua vida.

Fecha a porta, muda o disco, limpa a casa, sacode a poeira. Deixa de ser quem eras, e transforma-te em quem és. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és.

E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão.

Fernando pessoa
"Um destes dias, “saltou-me“ um livro para as mãos, cujo autor dizia num tom pouco amistoso e desconfiado, que “ …já não se percebe nada disto, estamos mesmo a viver relações invulgares…”
Sorri.
Engraçado como me parece que de uma ou de outra forma todos nós estamos a sentir, com mais ou menos agrado, com mais ou menos intensidade estas mudanças “estruturais” com que a vida nos está a confrontar.
Este é um tempo de reposição de verdade.
Um tempo onde o coração dos homens tem de se sobrepor à sua mente, um tempo de autenticidade, de desapego de velhos e obsoletos paradigmas, um tempo onde, claro está, qualquer “ vulgaridade” tem os dias contados.
As relações não fogem à “regra” até porque elas, (como não me canso de afirmar), são um excelente veículo de autoconhecimento e de transformação pessoal.
Estamos a ser convidados a viver relações de parceria espiritual, verdadeiras e genuínas, baseadas na verdade, na confiança e na transparência.
Talvez esta seja uma parte da “ invulgaridade”, pois o que mais se vê por aí, são relações baseadas no medo, na posse, no apego, no “fingir-que-se-está”, na indiferença e na mentira. Proíbe-se em nome do amor, exige-se em nome do amor, bate-se em nome do amor, interroga-se em nome do amor, sem nunca se chegar a perceber o que é realmente o verdadeiro amor.
Precisamos aprender que o amor não condiciona, liberta.
Não reduz, amplia.
Precisamos viver parcerias livres e genuínas, onde se aceite desafiar as partes receosas das nossas personalidades com verdade e transparência. Precisamos deixar para trás crenças sobre príncipes e princesas que foram felizes para sempre.
Precisamos aceitar a “ invulgaridade” dos tempos para repor a verdade.
Aprender que desapego não é indiferença, liberdade não é libertinagem, monogamia é vocação e não dever, semelhanças não são afinidades, e que o único compromisso que devíamos ter com o outro é o compromisso com a verdade.

Acredito que ao "vulgarizarmos" esta " invulgaridade" seremos pessoas mais sãs e muito, mas muito mais felizes !!!"

Cristina Leal