terça-feira, 25 de agosto de 2009

capitulo 6

O CORPO INTERIOR
O ser é o seu eu interior mais profundo
Você falou sobre a importância de existirem raízes profundas dentro de nós, habitando nossos corpos. O
que quis dizer com isso?
O corpo pode se tornar um ponto de acesso para o domínio do Ser. Vamos nos deter mais profundamente
nisso agora.
Ainda não tenho certeza se entendi o que você quer dizer com Ser.
“Água? O que você quer dizer com isso? Não estou entendendo nada”. É o que um peixe diria, se tivesse
uma mente humana.
Por favor, pare de tentar entender o Ser. Você já teve lampejos significativos do Ser, mas a mente vai
sempre tentar espremê-lo dentro de uma caixa e colocar-lhe um rótulo. Isso não dá certo. O Ser não pode se
tornar um objeto de conhecimento. No Ser, o sujeito e o objeto formam uma coisa só. O Ser pode ser sentido
como o eternamente presente Eu sou, que está além do nome e da forma. Sentir e, em conseqüência, saber que
você é e permanecer nesse estado profundamente enraizado é o que se chama iluminação, é a verdade que Jesus
diz que nos libertará.
Libertará do quê?
Libertará da ilusão de que não somos nada mais do que o nosso corpo e a nossa mente. É nessa “ilusão do
eu interior”, nas palavras de Buda, que está o erro central. Libertará dos inúmeros disfarces do medo, que é uma
conseqüência inevitável dessa ilusão, o medo que não vai parar de nos torturar, enquanto continuarmos
extraindo o sentido do eu interior exclusivamente dessa forma efêmera e vulnerável. E libertará do pecado, esse
sofrimento que inconscientemente infligimos a nós mesmos e aos outros, enquanto a ilusão governar aquilo que
pensamos, dizemos e fazemos.
Olhe além das palavras
Não gosto da palavra pecado. Ela pressupõe um julgamento e uma atribuição de culpa.
Posso entender isso. Durante muitos séculos, foram se acumulando interpretações erradas em torno de
palavras como pecado, devido à ignorância, à incompreensão ou a um desejo de controle, embora todas
contenham um fundo de verdade. Se você não for capaz de olhar para além de tais interpretações e, por isso, não
reconhecer a realidade para a qual a palavra aponta, então não a use. Não se prenda às palavras. Uma palavra
nada mais é do que um meio para atingir um fim. É uma abstração. Tal qual um letreiro em forma de seta em
um poste, uma palavra aponta para além dela mesma. A palavra mel não é mel. Você pode estudar e falar a
respeito de mel pelo tempo que quiser, mas não vai saber o que é enquanto não prová-lo. Depois de provar, a
palavra perde a importância e não ficamos mais presos a ela. De forma semelhante, podemos falar ou pensar
sobre Deus, sem parar, pelo resto da vida, mas será que isso significa que conhecemos ou que tivemos uma
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rápida visão da realidade para a qual a palavra aponta? Ela não passa de um apego obsessivo a um letreiro no
poste, um ídolo mental.
O contrário também acontece. Se, por alguma razão, não gostamos da palavra mel, pode ser que jamais o
experimentemos. Se você tem uma forte aversão à palavra Deus, o que é uma forma negativa de apego, pode
estar negando não só a palavra como também a realidade para a qual ela aponta. Você estará se privando da
possibilidade de vivenciar essa realidade. Tudo isso tem, naturalmente, uma relação direta com o fato de
estarmos identificados com as nossas mentes.
Portanto, se uma palavra não significa mais nada para você, jogue-a fora e use outra que signifique. Se
você não gosta da palavra pecado, chame-a então de inconsciência ou insanidade. Essa atitude talvez lhe
aproxime mais da verdade – a realidade que está além da palavra – do que um longo uso equivocado da palavra
pecado, deixando pouco espaço para a culpa.
Essas palavras também não me agradam. Elas pressupõem que existe alguma coisa errada comigo. É
como se estivessem me julgando.
Claro que existe alguma coisa errada com você e ninguém está julgando nada.
Sem querer ofender, mas você não pertence à raça humana que matou mais de cem milhões de membros
da própria espécie, somente no século vinte?
Você quer dizer que existe culpa por associação?
Não é uma questão de culpa. Mas, enquanto a mente nos governar, fazemos parte da insanidade coletiva.
Talvez você não tenha olhado profundamente para dentro da condição humana sob o domínio da mente. Abra os
olhos e veja o medo, o desespero, a inveja e a violência que penetra em tudo. Atente para a crueldade e o
sofrimento abomináveis, em uma escala jamais imaginada, que os homens infligiram e continuam a infligir a
outros homens, assim como a outras formas de vida. Você não precisa condenar, apenas observe. Isso é pecado.
Isso é insanidade. Isso é inconsciência. Acima de tudo, não esqueça de observar a sua própria mente. Busque
nela a raiz da insanidade.
Encontre a sua realidade invisível e indestrutível
Você disse que a identificação com a forma física faz parte da ilusão. Então como é que o corpo pode
nos levar à realização do Ser?
O corpo que podemos ver e tocar não consegue nos conduzir para dentro do Ser. Mas esse corpo visível e
palpável é só uma casca, ou melhor, uma percepção limitada e distorcida de uma realidade mais profunda. Em
nosso estado natural de conexão com o Ser, essa realidade mais profunda pode ser sentida, a cada momento,
como o corpo interior invisível, que é a presença viva dentro de nós. Portanto “habitar o corpo” é sentir o corpo
bem lá no fundo, de modo a sentir a vida dentro dele e, assim, realizar que somos algo mais além da forma
exterior.
Mas isso é só o começo de uma jornada interior, que nos levará ainda mais fundo para uma região de
grande serenidade e paz, embora também de grande poder e de vida palpitante. No início, talvez você só consiga
ter rápidas visões dessa região, mas, através delas, começará a perceber que você não é apenas um fragmento
sem sentido em um universo estranho, levemente suspenso entre o nascimento e a morte, com poucos momentos
prazerosos de curta duração seguidos de dor e, no final, de devastação. Por baixo da forma exterior, estamos em
conexão com algo tão grande, tão incomensurável, tão sagrado, que não pode ser concebido, nem compreendido
através de palavras, embora eu esteja falando sobre ele agora. Estou falando não para dar a você alguma coisa
em que acreditar, mas para mostrar de que modo você pode conhecê-lo.
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Enquanto sua mente absorver toda a sua atenção, você não conseguirá estar em conexão com o Ser. A
mente absorve toda a sua consciência e a transforma em matéria mental. Você não consegue parar de pensar. O
pensamento compulsivo se tornou uma doença coletiva. Tudo o que você achava que sabia a seu respeito passa
a se originar da atividade mental. Sua identidade, como não tem mais raízes no Ser, se transforma em uma
construção mental vulnerável e indispensável, que cria o medo e este passa a ser a emoção oculta predominante.
Fica faltando, então, a única coisa que realmente importa em sua vida, que é a percepção do seu eu interior mais
profundo, a sua indestrutível e invisível realidade.
Para se tornar consciente do Ser, você precisa ter de volta a consciência aprisionada pela mente. Essa é
uma das tarefas mais essenciais na sua jornada espiritual. Ela vai libertar grandes porções de consciência que
antes estavam presas nos pensamentos inúteis e compulsivos. Uma forma eficaz de realizar essa tarefa é desviar
o foco da atenção do pensamento e dirigi-lo para o interior do seu corpo, onde o Ser pode ser percebido, numa
primeira etapa, como o campo de energia invisível que dá vida àquilo que você entende como seu corpo físico.
Conecte-se com o seu corpo interior
Vamos fazer uma experiência agora. Talvez ajude fechar os olhos para este exercício. Depois, quando o
“estar dentro do corpo” se tornar algo fácil e natural, isso não será mais necessário. Dirija a atenção para dentro
do seu corpo. Sinta-o lá no fundo. Está vivo? Há vida nas suas mãos, braços, pernas e pés, em seu abdômen, no
seu peito? Você consegue sentir o campo de energia sutil impregnando todo o seu corpo e fazendo palpitar cada
órgão e cada célula? Percebe o que está acontecendo em todas as partes do corpo ao mesmo tempo, como se
fosse um só campo de energia? Mantenha o foco, por uns momentos, sobre a sensação que passa pelo seu corpo
interior. Não comece a pensar sobre ela. Sinta-a. Quanto mais atenção você der à sensação, mais clara e forte ela
ficará. É como se cada célula se tornasse mais viva e, se você tiver uma forte percepção visual, talvez obtenha
uma imagem do seu corpo ficando luminoso. Embora uma imagem assim possa lhe ajudar temporariamente,
preste mais atenção ao que você está sentindo do que a qualquer imagem que possa surgir. Uma imagem, não
importa o quanto seja bela ou poderosa, já tem uma forma definida, e, por isso, deixa menos espaço para
penetrar mais fundo.
A sensação dentro do nosso corpo interior não tem forma, não tem limites, não tem um fim. Sempre
podemos penetrar mais fundo. Se você não consegue sentir muito bem esse estágio, preste atenção ao que
consegue sentir. Talvez exista um leve formigamento em suas mãos e em seus pés. Já basta para o momento.
Focalize apenas a sensação. O seu corpo está se tornando vivo. Praticaremos outras vezes, mais adiante. Por
favor, abra os olhos agora, mas mantenha alguma atenção no campo de energia interior do corpo, mesmo que
esteja olhando a esmo. O corpo interior está na fronteira entre a forma e a essência, que é a sua verdadeira
natureza. Nunca perca o contato com ele.
A transformação através do corpo
Por que a maioria das religiões condena ou renega o corpo? Tenho a impressão de que as pessoas
interessadas em uma busca espiritual sempre olharam o corpo como um obstáculo ou mesmo como um pecado.
Por que tão poucas pessoas encontram o que procuram?
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Os seres humanos são bastante semelhantes aos animais no que se refere ao funcionamento do corpo.
Ambos têm as mesmas funções corporais básicas, como respirar, comer, beber, defecar, dormir, sentir prazer e
dor, ter o impulso de buscar um parceiro e procriar e, é claro, nascer e morrer. Muito tempo depois de terem
decaído do estado de graça e unidade para o estado de ilusão, os seres humanos repentinamente despertaram no
que parecia ser um corpo animal e ficaram bastante alarmados. “Não se iluda. Você não passa de um animal”.
Era uma verdade óbvia, mas bastante difícil de suportar. Adão e Eva perceberam que estavam nus e sentiram
medo. A negação inconsciente de sua natureza animal acabava de acontecer. A ameaça de que poderiam ser
dominados por impulsos instintivos poderosos e reverterem ao estágio de total inconsciência estava muito
próxima. A vergonha e alguns tabus em torno de certas partes e funções do corpo, especificamente quanto à
sexualidade, passaram a existir. A luz da consciência dos humanos ainda não era forte o bastante para conviver
com uma natureza animal, para permiti-la ser e até mesmo apreciar esse aspecto, muito menos para penetrar
profundamente dentro dela, para encontrar a divindade oculta em seu interior, a realidade dentro da ilusão. Os
humanos, então, fizeram o que tinham de fazer. Começaram a se dissociar de seus corpos. Viam agora a si
mesmos como possuindo e não simplesmente sendo um corpo.
Essa separação ficou ainda mais acentuada quando as religiões surgiram, graças à crença de que “você
não é o seu corpo”. Inúmeras pessoas do Leste e do Oeste, em todas as eras, tentaram encontrar Deus, a
salvação ou a iluminação, através da negação do corpo. Essa procura passou por uma negação da satisfação dos
sentidos, em especial da sexualidade, e por jejuns e outras práticas ascéticas. Algumas pessoas infligiam até
mesmo sofrimento ao corpo, numa tentativa de enfraquecê-la ou puni-la, porque ele era visto como cheio de
pecado. No cristianismo, isso era chamado de mortificação da carne. Outras pessoas tentaram escapar do corpo
entrando em estados de transe ou buscando experiências extracorpóreas. Muitas ainda adotam essas práticas.
Conta-se que até Buda praticou a negação do corpo através do jejum e de práticas extremadas de ascetismo
durante seis anos, mas ele só atingiu a iluminação depois que abandonou essa idéia.
O fato é que ninguém jamais atingiu a iluminação negando ou combatendo o corpo, ou através de
experiências fora dele. Embora uma experiência desse tipo possa ser fascinante e nos proporcionar um
vislumbre do estado de libertação da forma material, no fim, sempre temos de voltar para o corpo, que é onde
acontece o trabalho essencial de transformação. A transformação acontece através do corpo, e não distanciada
dele. Essa é a razão pela qual nenhum dos verdadeiros mestres jamais defendeu lutar ou abandonar o corpo,
embora seus discípulos, com base na mente, freqüentemente defendam.
Dos antigos ensinamentos relativos ao corpo, somente sobrevivem fragmentos, como as palavras de Jesus
“todo o seu corpo será preenchido pela luz”, ou mitos, tal como a crença de que Jesus jamais abandonou seu
corpo, mantendo-se unido a ele e com ele tendo subido ao “paraíso”. Quase ninguém, até hoje, compreendeu
esses fragmentos ou o sentido oculto de certos mitos. A crença de que “você não é o seu corpo” prevalece em
todas as partes do mundo, levando a uma negação do corpo e a tentativas de escapar dele. Isso tem impedido
que inúmeras pessoas alcancem a realização espiritual e encontrem o que procuram.
É possível recuperar os ensinamentos perdidos sobre a significação do corpo ou reconstruí-los a partir
de fragmentos existentes?
Não há necessidade disso. Todos os ensinamentos espirituais vêm da mesma Fonte. Nesse sentido, existe
e sempre existirá somente um mestre, que se manifesta de vários modos diferentes. Eu sou esse mestre e você
também é, desde que seja capaz de acessar a Fonte interna. E o caminho é através do corpo interior. Embora
todos os ensinamentos espirituais tenham origem na mesma Fonte, no momento em que eles são verbalizados e
escritos não passam de ajuntamentos de palavras, e uma palavra não passa de um letreiro em um poste
apontando o caminho de volta à Fonte.
Já comentei sobre a Verdade escondida dentro do nosso corpo, mas vou resumir, outra vez, os
ensinamentos perdidos dos mestres. Portanto, aqui está um outro letreiro. Por favor, procure sentir o seu corpo
interior enquanto ler ou ouvir.
O sermão sobre o corpo
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Aquilo que percebemos como uma estrutura compacta chamada corpo, que é sujeito às doenças, ao
envelhecimento e à morte, não é real, não é você. É uma percepção errada da nossa realidade essencial, que está
além do nascimento e da morte, cuja causa está nas limitações da nossa mente. A mente, tendo perdido o
contato com o Ser, cria o corpo como uma prova da sua crença ilusória de separação para justificar o seu estado
de medo. Mas não despreze o corpo, porque é no interior desse símbolo de não permanência, limitação e morte
que está contido o esplendor da nossa realidade essencial e imortal. Não desvie a atenção para outro lugar em
sua busca da Verdade, pois ela não pode ser encontrada em nenhum outro lugar que não no interior do seu
corpo.
Não lute contra o seu corpo, porque, ao fazer isso, você está lutando contra a sua própria realidade. Você
é o seu corpo. O corpo que você vê e toca é somente um delicado véu de ilusão. Debaixo dele encontra-se o seu
corpo interior invisível, a porta de entrada para o Ser, para a Vida Não Manifesta. Através do corpo interior,
estamos inseparavelmente conectados a essa Vida Não Manifesta – onde não há nascimentos nem mortes –, que
é eternamente presente. Através do corpo interior, estamos sempre com Deus.
Finque raízes profundas no seu eu interior
A chave é estar em um estado de conexão permanente com o nosso corpo interior, em senti-lo em todos
os momentos. Essa prática vai se intensificar rapidamente e transformar sua vida. Quanto mais consciência
direcionamos para o nosso corpo interior, mais cresce a freqüência vibracional, tal qual a luz que vai ficando
mais forte quando giramos o botão do dimmer, aumentando o fluxo de eletricidade. Nesse nível de energia mais
elevado, a negatividade deixa de nos afetar e tendemos a atrair novas circunstâncias que refletem essa alta
freqüência.
Quanto mais concentramos a atenção no corpo, mais nos fixamos no Agora. Não nos perdemos no mundo
exterior, nem na mente. Pensamentos, emoções, medos e desejos podem até estar presentes, mas não vão mais
nos dominar.
Verifique onde está a sua atenção neste momento. Ou você está me ouvindo ou está lendo minhas
palavras em um livro. Aqui está o foco da sua atenção. Você também está percebendo o que está ao redor, as
outras pessoas, etc. Além disso, pode haver alguma atividade mental em volta do que você está ouvindo ou
lendo, algum comentário mental, embora não haja necessidade de nada disso absorver toda a sua atenção.
Verifique se você consegue estar em contato com o seu corpo interior ao mesmo tempo. Mantenha parte da sua
atenção no interior. Não permita que ela se disperse. Sinta todo o seu corpo, lá do fundo, como um só campo de
energia. É quase como se você estivesse ouvindo ou lendo com todo o seu corpo. Pratique nos próximos dias e
semanas.
Não desvie toda a sua atenção da mente nem do mundo exterior. Procure, por todos os meios, se
concentrar naquilo que você está fazendo, mas sinta o corpo interior ao mesmo tempo, sempre que possível.
Tenha as raízes fincadas dentro de você. Observe, então, como isso altera o seu estado de consciência e a
qualidade do que você está fazendo.
Sempre que você tiver de esperar, esteja onde estiver, use esse tempo para sentir o seu corpo interior.
Assim, os engarrafamentos de trânsito e as filas vão se tornar mais agradáveis. Em vez de se projetar
mentalmente para longe do Agora, aprofunde-se no Agora ao se aprofundar no seu corpo.
A habilidade de perceber o corpo interior vai gerar um modo de vida novo, um estado de conexão
permanente com o Ser, e trazer uma profundidade à sua vida que você jamais imaginou.
É fácil ficar presente como o observador da mente quando as raízes estão firmemente fincadas no corpo
interior. Nada que aconteça do lado de fora pode nos abalar.
A menos que você esteja presente – e habitar o corpo é sempre um aspecto fundamental dessa prática –, a
mente vai continuar governando você. O script armazenado na mente, aprendido há tanto tempo, vai ditar o
modo de pensar e agir. Podemos nos livrar dele por períodos curtos, mas dificilmente por um período longo.
Isso se comprova facilmente quando alguma coisa “vai mal” ou quando existe alguma perda ou aborrecimento.
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Nossa reação condicionada vai ser então involuntária, automática e previsível, alimentada por uma emoção
básica que está por baixo do estado identificado com a mente, que é o medo.
Portanto, quando surgirem os desafios, como sempre surgem, adote o hábito de penetrar direto em seu eu
interior e se concentrar o máximo que puder no campo da energia interna do seu corpo. Não leva muito tempo,
só uns segundos. Mas isso tem de ser feito no exato momento em que o desafio acontece. Qualquer demora vai
permitir que a reação condicionada mental e emocional apareça e domine você. Quando dirigimos o foco para o
campo interno e sentimos o corpo interior, imediatamente ficamos serenos e presentes, porque estamos tirando a
consciência do campo da mente. Se precisarmos de uma resposta durante essa situação, ela virá desse campo
interior. Assim como o sol é infinitamente mais brilhante do que a chama de uma vela, há uma inteligência
infinitamente maior no Ser do que em nossa mente.
Enquanto mantivermos um contato consciente com o nosso corpo interior, somos como as árvores que
estão enraizadas bem fundo na terra, ou como um edifício com fundações sólidas e profundas. Essa última
analogia foi utilizada por Jesus na geralmente incompreendida parábola dos dois homens que construíram suas
casas. Um deles construiu a sua na areia, sem fundações, e quando as tempestades e enchentes vieram,
arrastaram a casa com elas. O outro homem cavou fundo até que alcançou a rocha, e só então construiu sua casa,
que não foi arrastada pelas enchentes.
Antes de penetrar no seu corpo, perdoe
Tive dificuldades quando tentei concentrar minha atenção no corpo interior. Senti uma certa agitação e
um pouco de náusea. Não fui capaz de vivenciar o que você está ensinando.
O que você sentiu foi uma emoção retardada, da qual provavelmente não tinha consciência antes de
passar a observar seu corpo. Se não der um pouco de atenção a essa emoção, ela vai impedir que você tenha
acesso ao seu corpo interior, que está em um nível mais profundo. Dar atenção não significa pensar nela.
Significa, apenas, observá-la, senti-la complemente, conhecê-la e aceitá-la do jeito que é. Algumas emoções são
fáceis de identificar, como a raiva, o medo e o desgosto. Outras talvez sejam mais difíceis de rotular. Elas
podem se manifestar como um leve desconforto, uma aflição ou um peso, um meio-termo entre uma emoção e
uma sensação física. Em qualquer dos casos, o que importa não é se você pode dar um rótulo mental a essas
emoções, mas sim se você pode tornar essa sensação consciente. A atenção é a chave para a transformação, e
isso também envolve aceitação. A atenção é como um raio de luz: o poder concentrado da consciência que
transforma tudo nela própria.
Em um organismo que funcione perfeitamente, uma emoção tem vida curta. É como uma onda ocasional
sobre a superfície do Ser. No entanto, se não estamos dentro do nosso corpo, uma emoção pode permanecer
dentro de nós por dias ou semanas, ou se juntar a outras emoções de freqüência similar, ou se tornar um
sofrimento, um parasita que pode viver dentro de nós durante anos, alimentar-se de nossa energia, nos deixar
doentes e tornar nossa vida miserável. (Ver capítulo dois).
Portanto, dirija sua atenção para a emoção e verifique se a sua mente está alimentando um padrão de
mágoa, culpa, autopiedade ou ressentimento, que, por sua vez, está alimentando a emoção. Se esse for o caso,
significa que você não perdoou. Quando se fala em perdoar, pensamos logo em perdoar alguém, mas o perdão
também pode ser em relação a nós mesmos ou a uma situação do passado, presente ou futuro que a nossa mente
se recusa a aceitar. Pois é, pode haver um não-perdoar até em relação ao futuro. É a recusa da mente em aceitar
a incerteza, em aceitar que o futuro está além do nosso controle. Perdoar é abrir mão dos nossos ressentimentos
e deixar que eles se desprendam de nós. Isso acontecerá naturalmente quando você perceber que os seus
ressentimentos não têm outro objetivo, exceto o de fortalecer o falso sentido do eu interior. Perdoar é não
oferecer resistência à vida, é permitir que a vida aconteça através de você. As alternativas são as dores e os
sofrimentos, um fluxo de energia altamente limitado, e, em muitos casos, doenças físicas.
No momento em que você perdoar, terá retomado o poder que estava na mente. O falso eu interior
construído pela mente, o ego, não consegue sobreviver sem discórdias e conflitos. A mente não consegue
perdoar. Só você consegue. Você se torna presente, penetra em seu corpo, sente a paz vibrante e a serenidade
que emanam do Ser. Essa é a razão pela qual Jesus disse: “Antes de entrar no templo, perdoe”.
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A ligação com o não manifesto
Qual é a relação entre a presença e o corpo interior?
A presença é a consciência pura, a consciência que foi recuperada da mente, do mundo da forma. O corpo
interior é a nossa ligação com o Não Manifesto e, em seu aspecto mais profundo, é o Não Manifesto, ou seja, a
Fonte da qual a consciência emana, tal como a luz emana do sol. Perceber o corpo interior significa que a
consciência está lembrando as suas origens e retornando à Fonte.
O Não Manifesto é o mesmo que o Ser?
É. A expressão Não Manifesto tenta, através de uma negativa, expressar Aquilo que não pode ser falado,
pensado ou imaginado. Ela aponta para o que é quando diz o que não é. Por outro lado, Ser é uma palavra
positiva. Mas não se prenda a nenhuma dessas palavras nem comece a acreditar nelas. Não passam de letreiros
indicadores.
Você disse que a presença é a consciência que foi retomada da mente. Quem faz essa retomada?
Você. Mas, como em essência, você é consciência, podemos muito bem dizer que é a consciência
despertando da ilusão da forma. Isso não quer dizer que a sua própria forma vai imediatamente desaparecer
numa explosão de luz. Você mantém a sua forma atual, mas percebe que existe algo sem forma e sem fim lá
dentro de você.
Tenho de admitir que isso está além da minha compreensão, mas, mesmo assim, em um nível mais
profundo, parece que entendo o que você está falando. É mais como uma sensação do que qualquer outra
coisa. Será que estou me enganando?
Não é um engano. Sentir vai aproximar você da verdade muito mais do que pensar. Não sou capaz de
contar nada que, no fundo, você já não saiba. Quando atingimos um determinado estágio de conexão interior,
reconhecemos a verdade assim que a ouvimos. Caso você não tenha ainda atingido esse estágio, a prática de
perceber o corpo vai fazer surgir o aprofundamento necessário.
Retardando o processo de envelhecimento
Nesse meio tempo, a percepção do corpo interior traz outros benefícios no campo físico. Um deles é uma
significativa redução do processo de envelhecimento do corpo físico.
Enquanto o corpo exterior, em geral, aparenta estar envelhecendo e murchando bem rapidamente, o corpo
interior não muda com o tempo, exceto que podemos senti-lo mais profundamente e torná-lo mais completo. Se
você tem vinte anos agora, o campo de energia do seu corpo interior vai se sentir igual ao de quando você tiver
oitenta. Estará vibrantemente vivo. Assim que o nosso estado habitual passa do estar fora do corpo e preso pela
mente para estar no corpo e presente no Agora, o nosso corpo físico fica mais leve, mais claro, mais vivo. Como
existe mais consciência no corpo, a ilusão da materialidade diminui.
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Quando nos identificamos mais com o corpo interior do que com o corpo exterior, quando o estado de
presença se torna o nosso modo normal de consciência, deixamos de acumular tempo na nossa psique e nas
células do corpo. O acúmulo do tempo, tal como um fardo psicológico do passado e do futuro, prejudica a
capacidade de auto-renovação das células. Portanto, se você ocupa o seu corpo interior, o exterior vai
envelhecer em um ritmo mais lento. E, mesmo quando envelhecer, a sua essência eterna vai brilhar através da
sua forma exterior, e você não dará a impressão de ser uma pessoa idosa.
Existe alguma prova científica disso?
Experimente e você vai ser a prova.
Fortalecendo o sistema imunológico
Um outro benefício dessa prática, no campo físico, é um grande fortalecimento do sistema imunológico.
Quanto mais consciência tivermos do corpo, mais forte se torna o sistema imunológico. É como se cada célula
despertasse e festejasse. O corpo adora a atenção que lhe damos. É também uma poderosa forma de se autoajudar.
A maioria das doenças acontece quando não estamos presentes em nossos corpos. Se o dono não está em
casa, todos os tipos suspeitos vão aparecer por lá. Quando você está presente, fica mais difícil que entrem tipos
indesejáveis.
Não é só o nosso sistema imunológico físico que se fortalece. O sistema imunológico psíquico também se
eleva bastante. Esse último nos protege dos campos de forças mentais e emocionais negativas emanadas de
outras pessoas, que são largamente contagiosas. Ocupar o corpo nos protege não porque nos coloca um escudo,
mas sim porque eleva a freqüência vibracional do nosso campo total de energia, de forma que qualquer coisa
que vibre em baixa freqüência, como o medo, a raiva, a depressão, passa a existir naquilo que é, virtualmente,
uma ordem diferente de realidade. Já não penetra no nosso campo de consciência, ou, caso penetre, já não
precisamos mais oferecer resistência, porque ele passa através de nós. Por favor, não aceite ou rejeite simplesmente
o que estou explicando. Faça um teste.
Existe uma técnica de meditação simples e poderosa que pode ser usada sempre que você sentir
necessidade de reforçar seu sistema imunológico. Funciona, em especial, quando usada assim que você sente os
primeiros sintomas de uma doença, mas também pode surtir efeito com doenças que já se instalaram, se você
usá-la a intervalos freqüentes e com uma concentração intensa. Ela também vai neutralizar qualquer ruptura do
seu campo de energia causada por alguma forma de negatividade. Entretanto, não se trata de um substituto da
prática de estar no corpo, do contrário seu efeito será apenas passageiro.
Quando você não tiver o que fazer por alguns minutos, “inunde” o seu corpo com a consciência. É um
excelente exercício para fazer à noite antes de dormir e assim que acordar de manhã, antes mesmo de se
levantar. Feche os olhos. Deite-se de costas. Escolha partes diferentes do corpo para dirigir a sua atenção por
alguns momentos, como mãos, pés, braços, pernas, abdômen, peito, cabeça, etc. Sinta o campo de energia
dessas partes tão intensamente quanto puder. Detenha-se mais ou menos por quinze segundos em cada lugar.
Deixe sua atenção percorrer o corpo, como, uma onda, dos pés à cabeça e da cabeça aos pés. Leva apenas cerca
de um minuto. Depois disso, sinta seu corpo em sua totalidade, como um campo de energia único. Mantenha
esse sentimento por alguns segundos. Esteja intensamente presente em cada célula do seu corpo durante esse
tempo. Não se preocupe se a mente, ocasionalmente, conseguir desviar a sua atenção para fora do corpo e se
você se perder em algum pensamento. Assim que você perceber que isso aconteceu, retome a sua atenção para o
seu corpo interior.
Deixe que a respiração conduza você para dentro do corpo
Às vezes, quando minha mente está muito ativa, chega a ser impossível desviar a atenção dela e sentir o
corpo interior. Isso acontece, especialmente, em momentos de muita ansiedade ou preocupação. O que fazer
sobre isso?
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Se você encontrar dificuldades de entrar em contato com o seu corpo interior, é mais fácil, em primeiro
lugar, concentrar a atenção no movimento da respiração. Tomar consciência da respiração, que já é uma
meditação poderosa, irá, aos poucos, colocar você em contato com o corpo. Observe atentamente a respiração,
como ela entra e sai do nosso corpo. Respire e sinta o abdômen inflar e contrair-se levemente, a cada inspiração
e expiração. Se você tiver facilidade para visualizar, feche os olhos e veja-se no meio da luz, dentro de um mar
de consciência. Então, respire dentro dessa luz. Sinta essa substância luminosa preenchendo todo o seu corpo e
tornando-o luminoso. Então, aos poucos, concentre-se nessa sensação. Você agora está dentro do seu corpo.
Não se fixe em nenhuma imagem visual.
O uso criativo da mente
Caso você precise usar a mente para um propósito específico, use-a em parceria com o seu corpo interior.
Só se conseguirmos estar conscientes sem que haja pensamentos é que seremos capazes de usar a mente de
forma criativa, e o caminho mais fácil para entrar nesse estado é através do corpo. Sempre que for necessária
uma resposta, uma solução ou uma idéia criativa, pare de pensar por um momento e focalize a atenção em seu
campo de energia interior. Tome consciência da serenidade. Quando você voltar ao pensamento, ele será novo e
criativo. Em qualquer atividade mental, habitue-se a ir e vir, de tantos em tantos minutos, entre o pensamento e
uma espécie de escuta interior, uma serenidade interior. Poderíamos dizer: não pense apenas com a cabeça,
pense com todo o seu corpo.
A arte de escutar
Quando você parar para ouvir uma outra pessoa, não escute só com a mente, escute com todo o seu corpo.
Sinta o campo de energia do seu corpo interior enquanto escuta. Isso desvia a atenção do pensamento e cria um
espaço de serenidade que possibilita você ouvir realmente. sem que a mente interfira. Você está dando à outra
pessoa um espaço para ela ser. É o presente mais precioso que você pode dar a alguém. A maioria das pessoas
não sabe como ouvir, porque uma grande parte da atenção delas está dominada pelo pensamento. Prestam muito
mais atenção a isso do que às palavras da outra pessoa e nenhuma atenção ao que realmente importa, ou seja, o
Ser da outra pessoa que está debaixo das palavras e da mente. É claro que você não consegue sentir o Ser de
uma outra pessoa, exceto através de você mesmo. Esse é o início da realização de uma união, que é o amor. No
nível mais profundo do Ser, você está em unidade com tudo o que existe.
A maioria das relações humanas consiste principalmente na interação das mentes umas com as outras, e
não de seres humanos se comunicando, ficando em comunhão. Nenhuma relação pode florescer por esse
caminho, e essa é a razão de tantos conflitos nas relações. Quando a mente dirige a nossa vida, o conflito, as
lutas e os problemas são inevitáveis. Estar em contato com o seu corpo interior cria um espaço de mente vazia,
dentro do qual a relação pode florescer.

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